Nota do Autor
Texto originalmente escrito em 3 de outubro de 2013 e republicado novamente, quando o Senador Renan Calheiros anunciou que o Ministro Joaquim Barbosa vai se aposentar do Supremo Tribunal Federal
Outro dia alguém disse que o ministro Joaquim Barbosa (foto) é um chato. Chato, mas bom e tem mostrado isto com extrema precisão e maestria ao relatar o Escândalo do Mensalão que está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal.
Tido como o primeiro negro a ser nomeado ministro no Supremo, Joaquim Barbosa é daqueles homens ímpares aos quais não se consegue ficar indiferente em momento algum.
Ou se gosta ou não se gosta dele, fato que parece pouco importar para ele. Sempre atento às questões jurídicas e ao rito processual para não deixar nenhuma lacuna ou falha que possa ser explorado pela defesa.
O Brasil deve um importante progresso de consciência política a Joaquim Barbosa que mesmo parecendo pedante e arrogante é exemplar naquilo que faz. Gente como José Dirceu, Roberto Jefferson, Marcos Valério, Delúbio Soares e os outros réus do Mensalão devem ter pesadelos e insônia só de pensar na acusação que lhes fez o relator do processo. Pena mesmo que o palco seja o Brasil e os espectadores sejamos, compulsoriamente, nós que sustentamos esta corja de ladrões.
Joaquim Barbosa é daquelas pessoas destemidas e que jamais se deixam intimidar pela fama ou peso político de cada um dos réus e corajosamente enfrenta Ricardo Lewandowski, o revisor do processo e não baixa a crista para ele.
Sua voz vai ecoar nas nossas mentes por muito tempo, dizendo-nos que há sim esperança de justiça no nosso país tão explorado e dilapidado por estes vilões do erário público. Diz-se que o processo de acusação está tão bem amarrado que os réus só escaparão se os seus advogados apelarem para expedientes pouco éticos para tanto.
O Brasil deve sim a Joaquim Barbosa desnudar cada passo que os governantes deram em nome de um projeto de governo. Diga-se que o Partido dos Trabalhadores que a vida inteira pregou a ética, a retidão e a moral na política, esqueceu-se de cada um destes itens e jogou-os no lixo da história tão logo Luiz Inácio Lula da Silva instalou-se no gabinete e sentou-se na cadeira presidencial e deu conta de que para governar teria que fazer alianças políticas e precisaria colocar dinheiro na parada. Mas de onde sairia a verba? Dos cofres públicos e se não fosse Mauricio Marinho, um ladrãozinho barato que foi nomeado diretor dos Correios ser pilhado embolsando uma propina o Brasil jamais iria saber ou melhor, jamais se chegaria às ante-salas do gabinete presidencial.
Marinho, citou o nome de Roberto Jefferson – que o nomeara para o cargo oriundo de uma composição política – como o chefe do esquema de corrupção nos Correios e a divulgação de um vídeo provocou o início de uma das maiores crises jamais vista na política brasileira.
Roberto Jefferson afirmou que se tivesse que sentar no banco dos réus levaria com ele José Dirceu. Reagindo com virulência e batendo em todo mundo, Jefferson detonou com dirigentes e líderes petistas e os escândalos começaram a surgir e a manchar a reputação ética do PT, e a partir daí descobriu-se o sinistro Marcos Valério; o bobo da corte Delúbio Soares; Silvio Pereira – que fez um acordo e se safou de ser acusado e José Genoino – outro que assinou contratos sem ler, e todos os outros envolvidos no maior escândalo político-financeiro da república brasileira.
Roberto Jefferson e José Dirceu foram cassados, os homens de confiança de Lula foram defenestrados e um a um os envolvidos foram surgindo para desespero do PT que desta vez não pode culpar a imprensa como é do feitio deles.
E Lula? Bem, o combativo, dedicado e esforçado ex-líder sindical saiu-se com a pérola da década. Disse que não sabia de nada e que fora traído. Quem há de acreditar? O que se sabe é que ao dizer que ignorava o que se passava debaixo do seu nariz, Lula deixou na mão os seus ladravazes todos no mato sem cachorro e estes foram todos parar nas mãos de Joaquim Barbosa.
Logo, o imaginário popular tratou de eleger Barbosa, o homem que está passando o Brasil a limpo e seria muito interessante ter a possibilidade de vê-lo num cargo onde pudesse exercer a moralidade pública na sua plenitude, mas antes com certeza vai condenar e botar na cadeia esta quadrilha de ladrões. Pena que ele não tenha conseguido julgar e condenar o maior deles todos. Aquele que jamais soube de alguma coisa…
Grande e notável Joaquim!