O resiliente Zé Pereira e suas cartas ao presidente da República

Com seu ativismo, Zé Pereira representa o sonho de legalização de milhões de indocumentados

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Zé Pereira já mandou mais de 2.800 cartas para a Casa Branca

As vezes Zé Pereira pensa em desistir, mas, melhor do que ninguém sabe que tem que continuar sua luta por legalização e por isso continua escrevendo cartas diárias ao ocupantes do Salão Oval na Casa Branca contando a sua história, que em linhas gerais é a mesma de tantos outros imigrantes indocumentados. Resiliente, Zé Pereira jamais perde a esperança de que a notícia de que uma legalização que beneficiará milhões de pessoas não tardará a chegar.

Resposta do ex-presidente Barack Obama

Depois de ter perdido em 2001 a chance de se legalizar na Lei 245i, primeiro por total desconhecimento do que estava acontecendo e porque não tinha emprego e tampouco dinheiro e um sponsor e de em 2004 ter sido enganado por um espertalhão que lhe prometeu mundos e fundos e o envolveu em uma fraude, José Antonio Pereira, o Zé Pereira que é nascido em Sabinópolis, Estado de Minas Gerais e é o sétimo de 10 filhos de uma família de camponeses, Zé Pereira deixou Sabinópolis aos 14 anos, com destino a Belo Horizonte, onde estudou até o 5º ano e trabalhou com servente de pedreiro, serralheiro, borracheiro e motorista de guincho e por fim vendeu pequenos anúncios para o jornal Estado de Minas (UAI) e para a Rede Itatiaia de Rádio, decidiu em 1999 tentar o visto para os Estados Unidos e meses depois desembarcou no Aeroporto de Miami para começar a sua vida na América. Depois morou em Connecticut e em Orlando até desembarcar em Massachusetts em 2009. 

Desiludido e em depressão por ter sido enganado e por não ter aproveitado a derradeira chance de legalização, pôs-se a pensar em uma forma de se fazer ouvir, ou melhor, de entrar nos gabinetes mais importantes dos Estados Unidos e contar a sua história.

Sempre sorridente e comunicativo, Zé Pereira decidiu que não iria perder nenhuma chance de lutar por uma ampla reforma de imigração nem que isto significasse deixar evidente a sua vulnerabilidade ao pedir diretamente através de cartas que escreve pessoalmente, primeiro a Barack Obama e atualmente a Donald Trump que concedam documentos para milhões de pessoas incluindo ele mesmo. 

Resoluto, Zé Pereira já escreveu mais de duas mil e oitocentas cartas aos presidentes da república e outros parlamentares e autoridades e promete mandar tantas quantas for necessárias. Algumas respostas das suas cartas foram assinadas pelo ex-presidente Barack Obama e outras pelo presidente Donald Trump. Zé as têm guardadas, pois sabe que está fazendo e escrevendo uma história e espera que o final feliz seja no dia em que uma ampla reforma de imigração for assinada. A seguir o seu depoimento.

Uma das cartas recebidas na administração Biden-Harris

Em 2010 comecei escrever cartas todas as semanas para o presidente Barack Obama, após algum tempo passei a escrever e fazer cópias das mesmas e enviar todos os dias e adotei isso como uma prática que continua até hoje tantos anos depois. Eu já escrevi cerca de mil cartas para Obama e continuei escrever para o presidente Trump. Acredito já ter totalizado 2.870 cartas enviadas para a Casa Branca. Sigo pedindo uma oportunidade de aplicar para a legalização, para mim e os mais de 11 milhões de indocumentados que estão aqui. As cartas que escrevi que mais marcaram, foi quando minha mãe tinha sofrido o terceiro derrame, me lembro ter sido bem dramático na carta, e depois a que escrevi em janeiro 2017, poucos dias antes de terminar o mandato do presidente Obama, contei minha frustração, e também citei a história de Rosa Parks para tentar pressionar o Presidente. A resposta mais marcante veio depois que o presidente Obama já não mais estava na Casa Branca, em junho 2017 recebi resposta da carta que enviei em janeiro e a carta falava de minhas frustrações com palavras muito bonitas. Esta eu coloquei em uma moldura na parede. Já recebi mais de 100 cartas da Casa Branca e da Imigração. As que escrevi ao longo do tempo, e eu mando cópias até receber uma resposta. Além dos presidentes e do chefe da Imigração, sempre envio a senadores e deputados. Quando as pessoas me perguntam o que quero com isso, eu digo, que espero primeiro em Deus, e tenho convicção que em breve teremos uma reforma imigratória abrangente”, diz Zé Pereira.

D. Mariquinha morreu em 2016, sem ver o filho legalizado

Em 2016, sua mãe Maria Candida, a D. Mariquinha aos 89 anos teve dois derrames e morreu em novembro de 2016, quatro dias depois da eleição de Donald Trump, ao ter um novo derrame, sem ver o filho que estava longe sem condições de ir sepultá-la. “Depois da morte da minha mãe, decidi a não mais ter medo e intensificar a busca pela legalização. Não vou desistir”, finaliza Zé Pereira que continua escrevendo suas cartas em nome de milhões de indocumentados. 

Fotos: arquivo pessoal

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros

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