Consertando as janelas quebradas: quem é Rudy Giuliani

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Nota
Donald Trump foi eleito e a grande pergunta que se faz é como será o seu governo. Trump se cercou de pessoas de confiança na sua campanha e certamente o mais importante de todos foi Rudolph ‘Rudy’ Giuliani, ex-prefeito de New York entre 1994 e 2001. O trabalho desempenhado à frente da prefeitura tornou-o um dos grande políticos do seu tempo e sua forma de governar uma das maiores cidades do mundo é até hoje imitada em muitos lugares. Certamente o ex-prefeito de New York terá um papel importante na administração Trump.

Consertando as janelas quebradas
Muito se falou a respeito da queda da criminalidade em New York durante o governo de Rudolph Giuliani. Ao assumir a prefeitura da maior metrópole americana, a cidade estava sob o domínio da máfia, dos narcotraficantes, dos rufiões, da desordem e da balbúrdia. Promotor de carreira, Giuliani arregaçou as mangas e começou a limpeza a partir da sua própria casa – a prefeitura, a polícia e até os bombeiros.

Funcionários desmotivados foram demitidos, exonerados, transferidos e remanejados. A mudança seguinte foi na cúpula da polícia. Ao expor as mazelas dos chefes de polícia, Giuliani mostrou que não havia intocáveis ali. As reclamações da população eram enormes e os protestos com a inoperância e ineficiência eram uma constante. Para mostrar que estava falando sério, ele mandou demolir delegacias de polícia – police stations – inteiras, e construir outras em lugares diferentes.

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Nos atentados de setembro de 2001, Giuliani teve papel importante na reação da cidade e foi para as ruas, mostrando que de fato se preocupava com a população

Policiais corruptos foram presos pela corregedoria; na seqüência, julgados e condenados por corrupção, violência e negligência. Novos oficiais de polícia foram recrutados nas academias e trouxeram uma nova mentalidade e atitude às forças policiais.

Uma das maiores queixas da população étnica de New York era que, cada vez que necessitavam de auxílio policial, quem os atendia era invariavelmente um oficial que nada tinha a ver com seu povo. O grande lance de Giuliani foi o de alocar, nas delegacias de polícia num bairro de hispânicos, oficiais hispânicos. O mesmo aconteceu com os italianos, os irlandeses, e mais ainda, se eles fossem gente dos próprios bairros seria o ideal.

Ao colocar para vigiar as ruas gente nascida e criada na vizinhança, e que em tese conhecia quem era quem, a ordem seria restabelecida.

Mas, o lance de gênio de Giuliani seria a implantação do programa de tolerância zero contra a violência. Baseado na teoria do cientista político James Q. Wilson e do psicólogo criminologista George Kelling, que em 1982 publicaram um estudo no qual estabeleciam uma relação de casualidade entre desordem e criminalidade.

O texto intitulado The Police and Neiborghood Safety – A Polícia e a Segurança da Comunidade – os autores usaram a imagem de janelas quebradas para explicar como a desordem e a criminalidade poderiam, aos poucos, infiltrar-se na comunidade, causando sua decadência e, com isso, queda de qualidade de vida. Kelling e Wilson sustentavam que se a janela de uma fábrica ou de um escritório fosse quebrada e deixasse de ser trocada imediatamente, as pessoas que por ali transitassem concluiriam que ninguém se importava com o fato, e que, naquela localidade, não havia autoridade responsável pela manutenção da ordem.

Logo, mais pessoas passariam a jogar pedras para quebrar as janelas que ainda estavam inteiras e todas as janelas estariam quebradas em pouco tempo. Com isso, iniciava-se o declínio social daquela rua e da própria comunidade.

O passo seguinte seria o ajuntamento de desocupados, os criminosos de pequenos delitos que, junto com os transgressores, se sentiriam à vontade para dominar e reinar num lugar onde não havia autoridade, e o bairro estaria à mercê dos desordeiros, pois as pessoas de bem estariam de mudança para lugares mais tranqüilos. As pequenas desordens levariam a grandes desordens, e conseqüentemente ao crime.

E era exatamente esse o diagnóstico de New York. As janelas estavam todas quebradas e não bastava somente trocá-las, havia a necessidade de limpar toda a área, e foi exatamente isso que Giuliani fez.

Um determinado dia ele chamou ao seu gabinete o chefe de polícia e disse que, a partir daquela noite, ele iria andar a pé pela cidade e queria se sentir seguro, pois na sua visão, se ele não estivesse em segurança a população não estaria. E Giuliani foi visto muitas vezes andando na madrugada por New York.

As checagens de documentos dos motoristas, o pronto atendimento de ocorrências policiais, a interferência policial onde houvesse o ajuntamento de mais de três pessoas, a repressão ao tráfico de drogas nas portas das escolas, o banimento de estabelecimentos considerados pornográficos, a exclusão das zonas de prostituição, o desmantelamento de gangues, eram algumas das muitas janelas quebradas que estavam sendo trocadas.

A brutalidade policial deu lugar à eficiência policial, e os oficiais estavam em constante observação e não havendo lugar para a truculência, os resultados começaram a aparecer. Os índices de criminalidade caíram a zero, e New York passou a ser uma das mais seguras cidades do planeta. Com a sua política de primeiro consertar as janelas, limpar a sua casa, e depois atender aos mínimos anseios da população, Rudolph Giuliani, terminou os seus dois mandatos como um dos melhores prefeitos que New York já teve na sua história.

Texto escrito em 2004. Foto: reproduções das redes sociais

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros