Centro de detenção onde estava brasileiro morto, tem histórico de problemas

Instalações em péssimas condições e falta de pessoal médico são corriqueiros no TCDF

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O Torrance County Detention Center Facility (TCDF), em Albuquerque, Novo México, onde estava detido o brasileiro Kesley Vial, 23 anos, que morreu na quarta-feira, 24, de causas ainda desconhecidas, têm um histórico de problemas que afetam seu funcionamento e também das pessoas que estiveram ou estão detidas lá.

O complexo do TCDF é uma prisão privada administrada pela CoreCivic e arrendada pelo U.S. Immigration and Customs Enforcement (ICE) e para onde vão alguns dos imigrantes indocumentados que são detidos quando são pegos atravessando a fronteira com o México. O TCDF também tem entre os detidos, pessoas que são presas pelo U.S. Marshals.

A CoreCivic é uma das maiores empresas prisionais com fins lucrativos dos Estados Unidos. O TCDF é considerado insalubre e com instalações decrépitas, o que fazem dela segundo alguns relatórios, como o pior centro de detenção do Novo México. O governo federal paga para a CoreCivic por 724 leitos/dia, cerca de US$ 2 milhões para operar as instalações do TCDF. A CoreCivic administra 113 instalações correcionais em parte do território americano.

Um relatório publicado no início deste ano, por um órgão de vigilância governamental expôs as condições precárias e a grave falta de pessoal que compõe a equipe de oficiais que trabalham lá. O relatório que foi emitido pelo Gabinete do Inspetor Geral do U.S. Department of Homeland Security (DHS) em março passado, pedia a remoção de todos os imigrantes que estavam detidos no TCDF, o que fez com que um congressista fosse ver in loco, as condições locais.

Posteriormente, documentos e entrevistas com cerca de uma dúzia de pessoas que estavam detidas ou que haviam passado pelo TCDF deram conta que as condições das instalações eram muito piores do que havia sido relatado anteriormente.

O staff médico sofre com a falta de profissionais especializados o que faz com que os cuidados médicos básicos tornem-se difíceis e escassos, quase que impossibilitados de se obter por quem precisa. No final de 2020, o TCDF ficou sem um médico por 139 dias e posições de enfermeiros ficaram vagos por sete meses e nove meses respectivamente. Uma posição administrativa ficou aberta por mais de um ano. Por causa da falta de pessoal, o governo federal reduziu o pagamento para a CoreCivic em 10% ao mês. Em julho deste ano, a capacidade de detidos no TCDF era de 300 pessoas e a equipe tinha 124 funcionários e 81 vagas abertas.

O relatório apontou que as condições de infraestrutura é tão degradada que as celas e dependências rotineiramente inundam com o esgoto que tem seus canos e dutos deteriorados, fazendo com que o excremento humano vaze constantemente. Qualquer obra de manutenção ou reparo, leva meses para ser feito. Além da falta de higiene e de limpeza.

Além das más instalações e precariedade do local que já teve o seu fechamento solicitado, há também denúncias de retaliações e maus tratos contra os detentos. Em 2020, detentos promoveram uma greve de fome pacífica por causa das condições de saúde em meio à pandemia de Covid-19. Dispostos a acabar com o protesto, a equipe do CoreCivic fez uso de spray de pimenta contra os manifestantes em ambientes fechados.

Por conta deste incidente, a American Civil Liberties Union (ACLU) e o New Mexico Immigrant Law Center processaram o TCDF e o Condado de Torrance pedindo indenização por danos e uma liminar proibindo o uso de agentes químicos contra os detentos.

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros