A dura realidade da volta

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Todos os parentes mais chegados – irmãos, tios e alguns primos de Marilza Ribeiro moram aqui nos Estados Unidos e a maioria deles já são cidadãos americanos ou estão perto de conseguir a cidadania. Marilza morou na região de Boston desde que chegou em 1997 e não pensava em voltar ao Brasil tão cedo até que conheceu num baile o Antonio Carlos e por ele se apaixonou e viveu uma história de amor, mesmo que ninguém da sua família gostasse do rapaz, pois diziam que ele tinha alguma coisa escondida.

Marilza conseguiu neste anos todos trabalhando economizar perto de US$ 40 mil que tinha sempre guardado para uma emergência qualquer, e de repente colocou na cabeça que tinha que ir embora porque o namorado falava o tempo todo em ir reconstruir a vida, pois dizia que era separado da mulher e precisava retomar sua vida.

Quando ela disse para a família que ia embora, todos foram contra. Seus irmãos, suas cunhadas, seus sobrinhos, seus tios e primos e alguns dos seus amigos diziam que era temerário que ela fosse de volta e insistiam na história de que o namorado não era uma boa pessoa.

Por várias vezes ele sumia e ficava dias sem dar nenhuma notícia até que aparecia e agia como se não tivesse acontecido nada, o que preocupava a todos ao redor de Marilza. Em julho do ano passado ela comunicou a todos que iria acompanhar o namorado de volta ao Brasil dentro de dois dias, e não houve nada que a convencesse a desistir da idéia. Tudo seria deixado para trás. Casa, carro, trabalho, amizades e uma vida plenamente estabilizada. Ela estava cansada e aquele era a oportunidade de ouro de voltar a viver no Brasil, pois sua carteira de motorista tirada na Flórida havia vencido e Marilza não suportava a idéia de ficar sem nenhum documento válido por aqui.

Além do que ela pensava que as suas economias dariam para se sustentar por uns meses lá no Brasil. Um dos seus irmãos brigou em ela e mesmo assim, não houve nada que a desistisse da idéia de ir mesmo.

Desfez-se das suas coisas, vendeu o carro, e com duas malas cheias de roupas foi embora. Em São Paulo o namorado deixou-a num hotel, dizendo que voltaria dentro de dois dias para que fossem embora para Vitória onde iriam morar. Passaram-se cinco dias e nada de Antonio Carlos voltar. Na manhã do sexto dia ele chegou sem dar nenhuma explicação e foram embora de carro para Vitória. Na viagem ele pouco falou e ela viu que alguma coisa havia de errado naquela situação, e Antonio Carlos não explicou de quem era o carro que tinha placa de Botucatu, no estado de São Paulo e muito menos de quem era o telefone que ele portava.

Quando chegaram em Vitória foram para a praia do Canto, e na primeira noite o telefone celular de Antonio Carlos tocava o tempo inteiro. De manhã quando ele estava no banho o telefone tocou e Marilza atendeu, e era ninguém menos do que a esposa de Antonio Carlos. Ele era casado e havia enganado-a o tempo todo.

Mesmo decepcionada e desiludida ela tinha dinheiro e vontade de trabalhar. Logo descobriu que o dinheiro não duraria muito tempo e que infelizmente ela não tinha nenhum profissão da qual pudesse viver dela.

Tentou trabalhar como balconista numa loja de tecidos, depois como atendente numa lanchonete e até de faxineira num hospital para definitivamente desistir e admitir que havia errado ao não dar ouvidos a todos que lhe advertiam da sua vontade de voltar.

Em janeiro do ano passado conseguiu um passaporte montado e foi barrada ainda em São Paulo e impedida de embarcar e a partir daí seu desespero aumentou, até que contasse para a sua família o que estava se passando.

Hoje ela mora em Goiânia com a irmã da sua cunhada e ajuda numa escola que a sua hospedeira tem e curte cada instante de arrependimento e se pudesse voltaria atrás, para em seguida dizer que não aconselha ninguém a voltar, pois as coisas estão realmente difíceis e complicadas cada vez mais.

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros