Perdas e danos

Multidões vagam a esmo sem ter a devida noção do que estão perdendo todos os dias

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Intolerância política, uma tendência cada vez crescente

Que praga é essa? 

Por que tanta miséria moral e intelectual?

Será que o Egito é ali?

Seria o castigo divino de tantas impunidades e excessos de tolerância?

Vago faceiro, pobre inocente, pelo estreito silêncio entre muros e seres que não sabem para onde vão.

Entre vãos caminhos concretos de aflições, chora o consolo dos consolados de ontem. 

Não posso dizer o meu nome. Como ousar tal ação?

Não posso falar o que eu penso e no que eu acredito.

Não serei ouvido. Serei julgado, condenado e agredido.

Por que tantos sofrimentos, tantas faltas e tantas ausências?

Será que o Egito é ali ou seria Berlim?

Separado estou e de longe observo.

Vi tantas perdas e lágrimas sobre tantos caixões que não consigo dimensionar o tamanho das valas ao meu redor.

Foram homens, mulheres e crianças. Jovens e velhos, parentes e amigos, tentando buscar o ar que lhes foram negados.

Por que?

Vivem no Egito ou estão na Roma de Duce, quem sabe? 

Que se extende por milhas e milhas sem um ponto de chegada.

Caminhos do nada numa terra sem noção que se prolonga pela tempo.

O castigo por tantas perdas e danos? 

Senhor dos misericordiosos!

Tolerante de criminosos e pecadores!

Compassivo dos fariseus que vagam pelas sombras em busca de incautos.

Cegos que carregam Bíblias e armas numa busca sem lógica.

Vão os diamantes, ficam os porcos.

Enxergo num céu coroado estrelas novas ganhando brilho intenso e nos deixando pobres e mais pobres de pobres, pobres de marré.

Corpos sem passado enrolados em Bragança e Habsburgo. 

Foi-se Emílio, foi-se Mila, Boldrin e foi-se Gal. Divina luz sobre a miséria que se arrasta pelas estradas, quartéis e palácios, travando o fluxo natural da vida.

Estaremos em Madrid, Barcelona, penso solitário, ou quem sabe próximos da Guernica de 27 de abril?

Onde estamos? Como chegamos até aqui?

A decência, que fim levou? 

Perdemos o constrangimento, o respeito e até a vergonha.

A noção de nação, de democracia, de liberdade e dignidade.

Perdemos parâmetros e já não separamos nada de mais nada.

Estamos quem sabe em Lisboa, Ancara, ou melhor ainda, em Cabul?

Subtraímos sonhos e utopias pelas pontes frias da indiferença.

Livros e cultura pelo obscurantismo absoluto dos falsos profetas.

Duendes do apocalipse.

Das pragas do Egito faltam quantas para cumprir o teu destino?

Que venham todos! 

Que venham Freires e Darcys, Nabucos e Machados. Que venham Barbosas e Gamas, Quitérias e Anitas. Que venham Vargas e Brizolas, Ulysses e JKs. Que venham todos, que venham já. 

Que venham logo! 

Que venham resgatar, pela misericórdia dos deuses, o que ainda resta sobre todos nós.

Gerald D

O gremista Gerald D escreve sobre artes, literatura, futebol e política com muita propriedade e consciência, o que reflete o seu gosto apurado pela boa leitura

2 COMMENTS

  1. Texto maravilhoso… de uma sensibilidade grandiosa. Precisamos urgentemente resgatar nossos valores, nosso respeito.
    Maravilhoso!!!

  2. Excelente texto, todos deveriam ler. Perdemos a noção de nação.
    Li e reli várias vezes para não perder nenhum detalhe de tão notável esclarecimento sobre o que estamos vivenciando.
    Parabéns

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