O caçador de vento

0
1175

Se houvesse um modo ou uma definição para Alex Miranda, poderia se dizer que ele é literalmente um caçador de vento. Pois é o vento ou os ventos que lhe permitem praticar o paraglider, um esporte radical que ele começou a praticar nos Estados Unidos em março de 2010.

Quando perguntado sobre o que é o paraglider, Alex pacientemente explica. “Não é tão simples como algumas pessoas imaginam e é preciso ir a uma escola de voo livre com profissionais responsáveis e licenciados pela The United States Hangliding Paragliding (USHPA).

“A primeira coisa será a apresentação do equipamento e entender o que é este esporte, depois os alunos começam nos morros mais baixos para aprender a controlar o equipamento, o que é muito desgastante. Cheguei a emagrecer quase oito quilos neste processo, pois corre-se muito além de ter de subir a pé para fazer vários saltos por dia. Com o desenvolvimento começa-se a subir mais e aí já se consegue tirar o pé do chão e a primeira sensação é incrível. Nunca esqueço deste dia. E o aluno vai se desenvolvendo e subindo o grau de dificuldades. Na escola existem quatro tipos de alturas para iniciantes, 75 feets nos primeiros dias, depois 150 feets com algumas semanas, depois 250 feets e na graduação da primeira licença que é por categoria – iniciante, intermediário e avançado. O aluno sai da escola com sua carteira P1 ou as vezes P2 dependendo do desempenho do piloto, para graduar P2 pode-se demorar um verão todo. Confesso que foi uma das melhores fases e é indescritível o primeiro momento quando se põe o pé fora do chão”, diz Alex que é Juiz de Fora, MG, e mora nos Estados Unidos há 12 anos.

Voar de paraglider é seguro, mas as vezes toma-se um susto. “Em Petersburg, Estado de New York fomos voar em grupo num dia lindo e de repente, o tempo fechou e optamos por sair da montanha para pousar com segurança e um vento nos pegou antes de pousar e voamos a favor do vento a mais de 60 milhas por hora, o que é muito rápido e para perder altitude fui em sentido a uma floresta perdendo altitude, o que é perigoso para pouso, pois o vento ficou muito forte e uma nuvem de poeira de uma pedreira veio a nosso favor e aí tive a certeza que tinha ficado perigoso, então continuei sentido a mata e bem próximo das copas das árvores onde o vento criava turbulência e o parapente saiu de controle e começou a fechar tentando me derrubar mas como tudo é muito rápido decidi soltar o paraquedas reserva e pousar em um pinheiro gigante. Graças a Deus, próximo de uma casa e sem nenhum ferimento ou machucado. Foi uma experiência que espero que nunca mais aconteça. Acidentes acontecem, mas o erro foi nosso de não ter pousado antes e todos nos saímos bem e continuamos amadurecendo e aprendendo cada dia mais”, relata Alex.

Para voar também é necessária uma licença emitida pela USHPA e os equipamentos necessários são uma harness que é a cadeira onde o piloto fica, um paraquedas reserva que fica por baixo do assento, um rádio de comunicação, variometer, o parapente e o capacete. O equipamento completo chega a custar US$ 5,5 mil para um iniciante. Para um piloto no nível avançado, varia entre US$ 8 mil e US$ 9 mil e tudo depende do que o piloto pode pagar, sendo que há no mercado equipamentos de ponta e os mais básicos e não há uma idade mínima ou máxima para a prática do esporte. Alex Miranda não participa de nenhuma equipe pois na América o esporte não é tão reconhecido e grande como na Europa mas sempre participa de alguma competição onde representa o Team Brasil de New England competindo na categoria P4 – nível avançado sendo que o seu parapente é da classe Sport, uma categoria mais segura mas muito rápida. Já no nível Profissional e na categoria Open o piloto voa no limite com cerca de 500 horas de voo ou mais por ano, coisa que é impossível fazer em New England. “Por isso optei pela categoria Sport”, afirma Alex que não tem patrocinador 100% direto sendo que consegue alguns preços em equipamentos para comprar e vender.

São vários os expoentes e pilotos de ponta no paraglider e os europeus são os que mais se destacam e entre os pilotos americanos, Alex destaca Brad Gannucio, Josh Cohn, Nick Greece, Frank Brow do Brasil e muitos outros onde afirma aprender quando acontecem eventos que reúnem os pilotos de nível mundial.

“Lá no alto é que se percebe o quanto somos pequenos e fracos e assim passamos a respeitar mais a natureza e as pessoas” – Alex Miranda. Fotos: arquivo pessoal

“Gosto de conhecer rampas de voo em diferente lugares, mas tem algumas muito especiais que volto quando posso. Todo início de abril viajo para a Flórida onde é um voo diferente das montanhas que são os flat lands, onde um guincho te solta a 800 metros de altura e se sai em busca da próxima thermal e ali chegando até 2 mil ou mais metros; e fazer o melhor de todos os voos conhecido com cross coutry. O voo de cross é chamado assim por ser muito longo e demorado, no início de julho o piloto Nick Greece com sua equipe tentou quebrar o recorde mundial de 513 quilômetros no Texas – aproximadamente nove horas ou mais de voo e me parece que ele chegou até o quilômetro 418 ou 428, mas mesmo assim foi registrado como recorde porque a equipe determinou que caso não fosse possível chegar aos 500 eles pousariam”, completa Alex que já voou nos estados da Carolina do Norte, Califórnia, Flórida, Washington, New York, New Hampshire, Vermont, Oregon, entre outros e o seu lugar preferido é o Mount Greylock, North Adams em Massachusetts que para Alex é a montanha mais linda em New England e no próximo campeonato nacional que será em Utah.

“No verão acontecem vários eventos, alguns muito importantes como os dois últimos que participei no início de julho, o Rat Race no Oregon e o campeonato nacional que aconteceu em Chelan, Washington. Estes eventos envolvem muito tempo e dinheiro e como não tenho patrocínio fica complicado participar de outros eventos, então escolho os principais e tento participar todo ano. Cada competição é um ensinamento novo e sou muito feliz quando estou voando, pois lá no alto é que se percebe o quanto somos pequenos e fracos e assim passamos a respeitar mais a natureza e as pessoas”, finaliza.

Quem quiser entender melhor e ir na Morningside Flight Park num final de semana deve enviar um e-mail para onjalex@hotmail.com. A escola tem em media de seis a oito novos começando o curso. Para ver outras fotografias dos voos de Alex Miranda acesse a página do Facebook.

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros