Enfrentando a depressão

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O mundo descobre que a causa mortis de Robin Williams foi a depressão que o acometeu e que possivelmente o levou ao suicídio. Uma pergunta se faz constantemente é de como a depressão pode ser enfrentada e combatida e que se tornou uma das principais doenças da nossa era.

A cabelereira Viviane Ramos viu suas filhas crescerem pelas fotografias que sua mãe remetia periodicamente pelo correio. Junto com seu marido, imigrou para os Estados Unidos no final da década de 90 para melhorar de vida. A distância da família, o choque cultural e a dificuldade de adaptação lhe renderam uma grave crise de depressão. “Senti solidão, saudade e entrei num estado de estresse muito grande que culminou com forte apatia em relação à vida”, afirma. Viviane só superou esse estado com ajuda médica.

É cada vez maior o número de casos de depressão, principalmente entre os imigrantes e a doença não escolhe idade, classe social ou raça. Nos Estados Unidos, os imigrantes estão mais passíveis à depressão por estarem longe de casa, da família e num ambiente muitas vezes adverso. Entre os brasileiros é muito comum a auto-medicação. Como os remédios são trazidos do Brasil sem o devido acompanhamento, em vez de curar, tem aumentado a gravidade da doença.

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A depressão não respeita talento, classe social, talento ou profissão e atinge pessoas como Robin Williams. Reprodução

O que leva pessoas bem sucedidas como era o caso de Robin Williams, realizadas profissionalmente, acomodadas socialmente, com situações financeiras estáveis e aparentemente saudáveis a se deixar abater pela depressão, que é chamada de um dos flagelos da humanidade? O que dirá então daquelas que estão longe de seus familiares, parentes, amigos e do seu próprio meio, sendo forçados a viver praticamente como clandestinos sem nenhuma perspectiva a curto prazo e, às vezes, com medo da própria sombra ou da campainha que toca no meio da noite?

A depressão e o desânimo faz com que o dia mais ensolarado torne-se o mais sombrio período. Faz com que o ser humano sinta-se só no meio da multidão. Os dias são passados na mais absoluta falta de vontade de fazer qualquer coisa. Há a prostração total, que aliada a uma letargia insistente torna o indivíduo vítima de si mesmo.

E via de regra o depressivo só quer saber de morrer, e de preferência só e sem ninguém por perto. Não há uma explicação científica para a depressão. Isto é narrado por médicos e terapeutas e serve de objeto de estudo nas nuanças das crises vividas por cada um. Familiares e amigos, às vezes, são chamados para tentar desvendar os mistérios de uma mente deprimida.

Uma questão suscita dúvida: a depressão é clínica ou patológica? Como tratar o deprimido? Invariavelmente, os medicamentos ministrados aos deprimidos são antidepressivos que tornam a pessoa ainda mais passiva e distante do mundo real que o cerca. Para alguns, do mesmo modo que a depressão vem, ela vai aliviando a mente e deixando o deprimido aliviado e sem uma resposta para o mal que o acometeu.

Um grande número de pessoas deprimidas se matam a cada ano por não conseguir aceitar o mal que lhes foi imposto. A medicina tem buscado respostas para a depressão ano após ano e não as encontra. Somente um especialista poderá indicar o tratamento adequado, analisando caso a caso.

Mesmo uma situação de nervosismo ou de angústia aparentemente passageira merece atenção. Não há uma estatística de quantas pessoas padecem de depressão e desânimo, mas uma coisa é certa: neste contingente estão pessoas de todas as camadas sociais e não há privilégio de uma classe específica. A medicina espera em curto prazo a descoberta da profilaxia correta para o tratamento adequado do mal dos nossos dias.

Depressão 2
A solidão é um dos caminhos do depressivo. Foto: Jehozadak Pereira

Os fatores que podem causar a depressão são inúmeros. Casamento e relacionamentos amorosos em crise, abandono, traição conjugal, morte e rompimentos de amizades, perda de emprego e sobretudo de identidade pessoal – muito comum nos imigrantes, solidão, falta de perspectiva de vida – principalmente para adolescentes e jovens, talvez as maiores vítimas nos dias atuais. O reflexo imediato é a falta de cuidados pessoais com a aparência física e o modo de se vestir. Outro reflexo é o desleixo com a casa, com o carro e com os objetos pessoais; o choro fácil, o alheamento e o isolamento do mundo. Para algumas pessoas o simples fato de estar envelhecendo é motivo suficiente para que a depressão as atinja em cheio.

Nos Estados Unidos, os imigrantes são mais passíveis de depressão. Entre eles, têm sido muito comum a auto-medicação com antidepressivos como o Prozac, o campeão de uso. Os remédios são trazidos do Brasil sem o devido acompanhamento médico e em vez de curar, tem piorado acentuadamente os casos de depressão. Há casos de brasileiros irem parar nos hospitais e consultórios americanos por causa do uso de antidepressivos sem receita médica o que em muitos casos agrava ainda mais a situação.

Ciente de que não poderia sair sozinha da depressão, Viviane buscou ajuda médica e com o tratamento se livrou do problema e também pode ajudar uma amiga que frequenta a mesma comunidade que ela a buscar tratamento, pois ela tomava remédios que mandou trazer do Brasil por conta própria e piorava cada vez mais. “Hoje estou curada e sei como lidar com o problema se ele surgir de novo, o que espero que não aconteça”, diz Viviane.

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O dia radiante torna-se sombrio para a pessoa acometida da depressão. Foto: Jehozadak Pereira

Depressão juvenil
O normal em qualquer adolescente é ser impaciente, inseguro, extremamente emocional, compulsivo; e por causa disso é muito difícil saber onde termina a adolescência normal e começam as doenças mentais.

Sono e alimentação exagerada, irritabilidade e supersensibilidade, alterações bruscas de comportamento são normalmente confundidas com atitudes típicas de adolescentes, no entanto, podem ser sintomas de depressão juvenil, fazendo com que especialistas divirjam entre tratar a depressão juvenil com remédios ou terapias.

Um estudo divulgado tempos atrás pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos aponta o uso de medicamentos como a terapia mais eficiente. O estudo divulgou resultados preliminares de uma pesquisa de uma década com quase 400 crianças ao redor do país. Os pesquisadores dividiram as crianças em dois grupos – os tratados com Prozac, e terapia comportamental cognitiva, uma combinação dos dois e um placebo – pílula de farinha, sem efeito nenhum – e compararam os resultados.

O melhor tratamento foi uma combinação de drogas e terapia, seguida apenas de Prozac. A terapia comportamental isolada, considerado o melhor tratamento para adulto, ficou um pouco acima do placebo.

A Grã-Bretanha proibiu o uso de todos os antidepressivos, menos o Prozac, para adolescentes, depois que os pesquisadores britânicos notaram uma alta taxa de suicídio entre usuários dessa faixa etária. Busca-se ainda uma saída para o assunto e a opinião recorrente é a de que sem estudos aprofundados não será possível estabelecer uma terapia eficiente, mas todos concordam com que se deve ter muito cuidado com os adolescentes.

Problemas comuns
As estatísticas mostram que para cada duas mulheres depressivas há um homem na mesma situação. Pode-se entender que as mulheres estão mais sujeitas a variações hormonais – menarca, parto, tensão pré-menstrual e menopausa. No entanto, para os cientistas estas estatísticas não são confiáveis, e o que separa homens e mulheres não é a vulnerabilidade, e sim a dificuldade dos homens em admitir que estão doentes. As mulheres buscam ajuda aos primeiros sinais do problema, enquanto que o homem só o faz quando a doença está em estágio avançado, pois se julga forte, independente e no controle da situação.

A atitude, nestes casos, de buscar ajuda tardia é de alto risco e para os homens, muitas vezes, a melhor saída – eles pensam – é o suicídio; homens tentam o suicídio cerca de quatro vezes mais que as mulheres.

Quando acometidos pela depressão, os homens são mais suscetíveis ao cansaço em excesso, à irritabilidade e a perda de interesse pelo trabalho e pela vida. Já as mulheres demonstram tristeza, sentimento de culpa e de inutilidade, além de manifestarem baixo auto-estima.

O escape de muitos deprimidos é o álcool ou as drogas, o que leva a um agravamento do problema, fazendo com que o estado de infelicidade gere irritação e violência. Muitos homens vivem num estado de desânimo crônico, e se acostumam de tal modo com a situação, que passam a acreditar que o desânimo é uma característica da personalidade. Vivem num estado de melancolia e sentimento de culpa constante, o que mascara por períodos curtos os sintomas da depressão.

Tratamentos
O entusiasmo e a euforia são substituídos pela frustração e decepção, primeiro consigo e depois com os outros; nesta fase não está descartado o comportamento violento do homem.

Crê-se que a depressão ocorra por causa de um desequilíbrio na química cerebral, decorrentes da queda nos níveis de serotonina e noradrenalina – os transmissores responsáveis pelas sensações de bem-estar e prazer. O desarranjo provoca prejuízos a memória e concentração, provocando alterações consistentes de humor.

A primeira opção de tratamento é medicamentosa – uso de remédios – para reequilibrar a química cerebral. Sessões de terapias com psicólogos e psicanalistas podem funcionar como tratamento coadjuvante, as quais, em casos de depressão leve, são eficazes. Mas, o homem é sempre reticente ao tratamento com terapias, e estudos mostram que o apoio psicológico pode auxiliar na ajuda e recuperação da depressão.

Muitos têm medo de ao buscar o tratamento e a admitir a depressão de ficar estigmatizados como doentes irrecuperáveis, o que não é verdade, pois a depressão tem cura sim, desde que tratada adequadamente.

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros