É hora de dar um basta

O mito começou como um valentão e terminou como um chorão...

0
136
Atos foram o resultado de quatro anos de mentira e manipulação. Marcelo Camargo/Agência Brasil

A preparação da sedição que aconteceu em Brasília no domingo, 8, com a invasão do Palácio do Planalto, do Plenário da Câmara Federal e do Supremo Tribunal Federal, com atos de vandalismo que terminaram em depredação do patrimônio público de inestimável valor histórico, começou há pouco mais de quatro anos, com o movimento que levou Jair Messias Bolsonaro ao poder.

As redes sociais foram o campo onde as pessoas foram alcançadas e atingidas em cheio por mentiras das mais variadas e deslavadas que contaminam suas mentes e pensamentos, tornando-as em um campo fértil e prontas a serem manipuladas. Junto com as mentiras e notícias falsas enviadas aos milhares diariamente, perdeu-se a noção de responsabilidade e de onde terminava a verdade e começava a mentira. A pregação diuturna do ódio e da insatisfação contra tudo e contra todos tomou o lugar da civilidade e do respeito ao próximo, fosse ele quem fosse.

O suposto conservadorismo que tais adeptos do ex-presidente dizem praticar e que sequer sabem o que é de fato ser um conservador.

Deve-se abrir um parêntese para tratar de quem é Jair Bolsonaro. Um militar medíocre, arrivista, baderneiro e a quem o ex-presidente Ernesto Geisel referiu-se um dia chamando-o de ‘um mau militar’, que deu baixa para não ser expulso do Exército. Reformado como capitão, enveredou pela política por quase 30 anos, e na Câmara Federal era um deputado do baixo clero, sem nenhuma relevância e que durante todos os seus mandatos, jamais apresentou um mísero projeto.

Um dia descobriu que usando uma linguagem chula, vulgar e inapropriada lançou-se candidato a presidente da república e com a ajuda das redes sociais e de uma facada jamais explicada, elegeu-se e tornou o pior presidente que o Brasil já teve.

No exercício do poder, Bolsonaro mostrou a que veio. Truculento, boca suja, tratou de desmontar políticas públicas e fez do famigerado cercadinho um local de estridência e intolerância diária.

Tinha também o implacável gabinete do ódio, sempre célere em destruir e enlamear reputações de prováveis detratores de Bolsonaro. Como políticos populistas do naipe do ex-presidente precisam de um inimigo, Bolsonaro elegeu alguns. O STF, Alexandre Moraes, A Rede Globo, o UOL, jornalistas, artistas, comunicadores e quem mais ousasse atravessar o caminho dele. Bolsonaro alimentou dia após dia a intolerância contra a esquerda, o comunismo, Lula e o PT. E encontrou eco em quem pensa como ele.

Veio a pandemia e Bolsonaro tratou de implicar com governadores e prefeitos que não autorizaram o povo a trabalhar ou sair para as ruas. Foi um crítico ácido do ‘fique em casa’ e os culpou pelos resultados desastrosos da economia. Sem contar as mentiras contra o sistema eleitoral brasileiro e as constantes ameaças contra a democracia. Bolsonaro sempre disse jogar dentro das ‘quatro linhas da Constituição’, que aliás, sempre desrespeitou.

Bolsonaro passou parte do seu governo colocando em dúvida as urnas eletrônicas e que teria dificuldade em aceitar os resultados delas se ele fosse o perdedor. Optou deliberadamente por escolher Alexandre de Moraes como seu desafeto e que em contrapartida tratou de dificultar as vidas de rufiões bolsonaristas.

Terminada a eleição Lula foi eleito e Bolsonaro trancou-se num silêncio constrangedor negando-se a aceitar a derrota, que jamais admitiu. Pós-eleição, jamais desestimulou que sua gente contestasse o resultado das urnas. O que se viu foi uma catarse coletiva e cenas patéticas em frente a quartéis pedindo intervenção militar com evidentemente, Bolsonaro no poder.

Sem resultado, e com Bolsonaro sendo bajulado inclusive por figuras impolutas da comunidade brasileira nos Estados Unidos, o desespero de gente que foi doutrinada e manipulada por quatro anos em toda a sorte de mentiras e aleivosias, resolveu marchar contra as instituições que representam a democracia.

Gente que além de manipulada no ódio e na intolerância, foi financiada por quem tem interesses escusos e tudo a ganhar se o golpe anti democracia tivesse dado certo. A reação a tentativa de golpe das instituições foi a altura e parte dos golpistas está presa e a outra foragida com medo de ir para a cadeia.

Bolsonaro certamente vai ser responsabilizado e terá de prestar contas dos seus atos e a lição que nos resta é de que o fascismo precisa ser confrontando e derrotado sem piedade alguma, pois do contrário a democracia será engolida. É preciso dar um basta.

Triste mesmo foi ver que a brava gente brasileira tem parte de si representada pelo bolsonarismo ignaro, atrasado, retrógrado e que se vale de mentiras e notícias falsas para sobreviver. Mas deprimente foi a cena do bolsonarista enrolado na bandeira brasileira baixando as calças e defecando sobre uma mesa na invasão. Certamente o tipo achou que estava abafando, mas no duro mesmo ele é a mais perfeita representação do seu líder máximo, a quem chamam de mito, que começou como um valentão e terminou como um chorão. E fujão…

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros