Considerações sobre o luto

Nós não temos nenhum poder sobre a vida muito menos sobre a morte

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Ana A. Pereira - dezembro de 1938/fevereiro de 2023

Nota da Redação
Texto publicado em homenagem a D. Ana A. Pereira (foto da capa), mãe de Jehozadak Pereira, editor do Metropolitan News USA, que faleceu no Brasil em 17 de fevereiro aos 85 anos. Mulher brilhante, inteligente e determinada, Ana, foi casada com o reverendo Pedro A. Pereira, já falecido com quem teve seis filhos que lhe deram netos e bisnetos.  

Neste momento onde a morte está diariamente presente faz-se necessário fazer considerações a respeito da natureza da melancolia comparando-a com o afeto normal do luto, que vem do latim ‘lucto’ e significa um sentimento profundo de tristeza e pesar pela morte de alguém. Para a psicologia o luto está ligado aos processos que envolvem perdas em diversos contextos e podem ser muito mais abrangentes.

O luto, de maneira geral, manifesta-se como estado de reação a perda de algo amado e não implica condição patológica desde que seja superado após certo período de tempo. Suas características assimilam-se muito as da melancolia que possui como traços marcantes desânimo profundo e penoso, cessação de interesse pelo mundo externo e inibição de toda e qualquer atividade. A característica de maior peso na diferenciação dos dois estados é presença de baixa auto-estima e auto-recriminação muitos comuns na Melancolia e inexistentes no luto normal.

No luto profundo existe a perda de interesse pelo mundo externo a não ser que se trate de circunstâncias ligadas ao objeto perdido. Há a dificuldade de adotar um novo objeto de amor. A inexistência do objeto exige grande esforço para redirecionamento do prazer de viver. A melancolia também pode vir a ser reação de perda do objeto amado, objeto este que não precisa ter necessariamente morrido e sim ter sido perdido enquanto objeto de amor. Em alguns casos pode-se constatar a perda, entretanto, não se sabe exatamente o que se perdeu, sabe-se, por exemplo, quem se perdeu, mas não se sabe o que se perdeu nessa pessoa. No melancólico não se pode ver exatamente qual o conteúdo da perda.

Diferentemente do processo de luto, apresenta o ego como desprovido de valor, incapaz de qualquer realização. A gênese da melancolia, segundo Freud, estaria numa ligação objetal que mostrou ser uma catexia de pouco poder de resistência sendo logo liquidada.

Hoje gostaria de ressaltar a importância de tomar consciência da realidade da morte e a importância de viver o luto. E preciso deixar claro que os familiares devem encarar a morte a fim de sofrerem menos. Esquecer ou aprender a trabalhar com a perda é necessário. Esquecer é difícil, o ideal e aprender a lidar com a perda, que é real e irreversível. A duração das reações de luto parece estar relacionada à forma como o enlutado faz o trabalho de luto, que requer reajustes frente à ausência do falecido, a formação de novas relações e a libertação em relação ao pesar pelo falecido. Os rituais não se limitam ao momento posterior à morte, podem ocorrer em outros períodos, permitindo a exteriorização das lembranças, a demonstração da saudade o que pode ser salutar para o processo do luto. A forma como o luto é vivenciado e resolvido depende de vários determinantes: experiências prévias de perda, idade do enlutado e do falecido, religião, fatores culturais e familiares, estresses secundários para o enlutado, habilidades de enfrentamento do enlutado para suportar perdas, etc. 

Algumas atitudes podem ajudar na resolução da dor do luto, como por exemplo: saber viver o luto, ou seja, saber expressar as emoções, procurar parentes e amigos que ajudem a vencer a dor da perda; 

  • Aceitar que está de luto, encarar a perda e chorar a dor no período certo; 
  • Chorar, não ficar guardando essa emoção; 
  • Interceder pela alma da pessoa falecida. A vida não acaba com a morte, a gente pode continuar amando as pessoas que já faleceram. Para quem acredita que a vida acaba após a morte, o luto vai ser muito mais difícil e doloroso.

A superação do luto é realizada pouco a pouco e com grande gasto de energia. O desligamento do objeto perdido se dá através da evocação e hipercatexização de cada lembrança relativa ao objeto. Quando o trabalho de luto se conclui o ego se recompõe   outra vez.

A morte é a mudança que estabelece a renovação. Quando alguém parte, muitas coisas se modificam na estrutura dos que ficam e, sendo uma lei natural, ela é sempre um bem, muito embora as pessoas não queiram aceitar isso. Nada é mais inútil e machuca mais do que a revolta. Lembre-se de que nós não temos nenhum poder sobre a vida muito menos sobre a morte.

Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” – Apocalipse 21.4.

Eliana Pereira Ignacio

Eliana Ignacio é Psicóloga formada pela PUC - Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica. É especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo, Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas; especializada em Atendimento Familiar pelo Grupo Mineiro de Psicologia Humanista. IFL - Instituto Fraternal de Laborterapia em São Paulo. Psicoterapia - Holística. FEBRACT- Federação Brasileira das Comunidades Terapêuticas. DENARC Departamento de Investigação sobre Narcóticos. Conselheira junto ao núcleo de Psicologia Social e Políticas Públicas do Alto São Francisco. Conselheira junto ao SENAD - Secretaria - Nacional de Políticas sobre Drogas - Governo Federal.

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Eliana Pereira Ignacio
Eliana Ignacio é Psicóloga formada pela PUC - Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica. É especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo, Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas; especializada em Atendimento Familiar pelo Grupo Mineiro de Psicologia Humanista. IFL - Instituto Fraternal de Laborterapia em São Paulo. Psicoterapia - Holística. FEBRACT- Federação Brasileira das Comunidades Terapêuticas. DENARC Departamento de Investigação sobre Narcóticos. Conselheira junto ao núcleo de Psicologia Social e Políticas Públicas do Alto São Francisco. Conselheira junto ao SENAD - Secretaria - Nacional de Políticas sobre Drogas - Governo Federal.

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