Cirurgia plástica: cuidados para não cair nas mãos de vigaristas

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Anabela é muito jovem e tem uma vontade muito grande de modificar inteiramente a sua aparência física, e por conta disto operou o nariz aos 18 anos, corrigiu as pálpebras aos 19, colocou próteses de silicone nos seios aos 20 além de fazer uma lipoescultura para se livrar de algumas gordurinhas indesejadas e ter finalmente o tão sonhado corpo que sempre desejou.

Para quem lhe pede as razões de tantas cirurgias, Anabela mostra as suas fotos antes da primeira operação e vai enumerando as razões pelas quais tem enfrentado bisturis e anestesias. Quem olha para as fotos vê uma jovem linda e bem cuidada, mas segundo ela mesmo, insegura por causa do nariz levemente adunco, das pálpebras salientes ou dos seios pequenos, que lhe impunham constrangimento diante das suas amigas e colegas. Ela não á única da sua turma a ter se submetido a intervenções cirúrgicas com fins estéticos para melhorar a estima e sobretudo, a aparência.

A obsessão pelo corpo perfeito tem sido uma das buscas mais intensas da humanidade e a partir do início da última década, quando a cirurgia plástica, antes acessível somente a endinheirados tornou-se popular – e nem por isso menos barata – viabilizando o sonho de muita gente – principalmente mulheres.

Luiz Carlos Ribeiro - corte
O médico brasileiro Luiz Carlos Ribeiro, foi condenado por homicídio doloso, prática ilegal de medicina e porte ilegal de substâncias ao provocar a morte de uma mulher de 26 anos. Reprodução

O apelo e o culto ao corpo perfeito faz com que muitas pessoas cometam loucuras, gastem fortunas em procedimentos cirúrgicos que nem sempre dão certo. Na comunidade brasileira, casos de cirurgias plásticas que deram errado provocaram a morte de Graciane Carvalho Sampaio, 27 anos em 2012; Adriana Silva, 39 anos em 2013; Fabíola de Paula, em 2006 aos 26 anos – este certamente é o mais rumoroso caso de erro médico, que resultou na culpa do cirurgião Luiz Carlos Ribeiro que foi condenado e passou aproximadamente quatro anos na cadeia, antes de ser deportado. A ex-mulher de Ribeiro, Ana Maria Miranda Ribeiro também foi condenada e cumpriu a sua pena de um ano. Ribeiro havia sido condenado no Brasil por imperícia e vinha periodicamente aos Estados Unidos para operar pessoas. O médico não tinha habilitação para fazer cirurgias plásticas no Brasil, e soube-se que havia fila de espera de pessoas dispostas a se submeter a procedimentos cirúrgicos com ele atraídas pelo preço baixo que era cobrado.

Fabíola morreu de embolia pulmonar quando era submetida a uma lipoaspiração no basement de uma residência em Framingham e o médico foi acusado de homicídio doloso, prática ilegal de medicina e porte ilegal de substâncias. Sabe-se que não foi o único a fazer tais cirurgias, e volta e meia surgem clínicas e médicos que operam clandestinamente em locais improvisados.

Lourdes, uma catarinense que mora nos Estados Unidos há vinte anos foi atraída por uma propaganda de uma clínica de cirurgia plástica num país da América Central com preços muito convidativos e incentivada por uma amiga que já havia feito no mesmo local resolveu ir a Flórida, onde o médico dava plantão. Lourdes queria fazer lipoaspiração e colocar implantes de silicone nos seios. “Deu tudo errado e tive complicações pós-operatório, peguei infecção hospitalar e a prótese que coloquei era da marca francesa que deu problemas. O resultado é que levei meses para me recuperar dos efeitos da infecção hospitalar e tive que trocar as próteses por minha conta, já que na época paguei tudo em dinheiro e quando fui atrás do médico na Flórida não achei e me dei conta de que aquilo que parecia ser um sonho que ia me levantar a estima, foi na realidade um pesadelo que quase me custou a vida. Hoje, aprendi a lição que quando quero coisa boa e de primeira tenho que pagar e é por isso que trabalho”, afirma, ela que periodicamente se submete a aplicações de Botox e já fez dois procedimentos cirúrgicos posteriores nos Estados Unidos sem qualquer complicação ou problemas.

A BBC publicou reportagem contando a história de Natalie Johnson da Flórida que se submeteu a aplicações de injeções para aumentar o tamanho dos glúteos. Natalie caiu nas mãos de um falso médico e as aplicações provocaram manchas escuras e sinais de decomposição do tecido após o procedimento. A mulher que era dançarina, que queria ficar com um bumbum bonito, terminou com cicatrizes e sofre com dores.

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ONeal Morris, um falso médico que provocou problemas para muitas pessoas com tratamentos inadequados. Reprodução

ONeal Morris, o falso profissional que lhe aplicou as injeções cobrou um preço infinitamente menor do que as clínicas especializadas e estabelecidas cobram e fez o procedimento na casa da própria Natalie com uma seringa. Em princípio o resultado foi bom, pois os glúteos ficaram firmes e redondos, tal como Natalie queria e depois de duas sessões surgiram os problemas, pois o implante estava desintegrando e o bumbum da mulher ficou enrugado e ela precisou ser internada porque não conseguia respirar. A polícia foi acionada e ONeal Morris foi processado, julgado e condenado a um ano por prática ilegal de medicina e constatou-se que ele usava substâncias diversas incluindo comento, supercola e selaste de pneu e de acordo com o FBI golpes semelhantes acontecem em diversos estados americanos. Falsos profissionais usam ainda azeite e supercola e a correção é cirúrgica e os procedimentos incorretos causam dores e cicatrizes profundas, quando não causam deformidades por causa dos estragos provocados no corpo das pessoas.

O caso que envolveu ONeal Morris, um transgênero teve ares de escândalo pelas deformidades provocadas, inclusive nele mesmo que se submetia aos procedimentos que depois se comprovou prejudiciais.

Se até pouco tempo atrás a preocupação era com a estética externa, hoje um número cada vez maior de mulheres pensa na estética interna. Uma das mais difundidas modalidades é a cirurgia estética vaginal. Este tipo de intervenção virou moda em poucos anos, segundo a American Society of Plastic Surgeons (ASPS), e desde então surgiu uma dúzia de clínicas no Canadá e nos Estados Unidos que oferecem estas cirurgias, atraindo milhares de clientes de todo o mundo.

As operações mais comuns, consistem no estreitamento da vagina para aumentar o prazer sexual da mulher, na injeção de gordura nos grandes lábios e na reconstituição do hímen, sobretudo para mulheres que pretendem se casar virgens. As primeiras pacientes a se submeter a estas cirurgias eram tratadas de incontinência urinária ou complicações derivadas do parto. Algumas voltavam aos consultórios afirmando que sua vida sexual tinha melhorado consideravelmente, e graças ao boca a boca e a alguma publicidade, os consultórios ficaram lotados de mulheres pedindo para estreitar suas vaginas, e muitas delas chegavam com revistas pornográficas pedindo que seus genitais ficassem parecidos com os das mulheres nas fotos.

Mulheres com idades acima dos 18 anos e de diversas profissões vão aos consultórios para operar e algumas afirmam que seus casamentos tomaram outros rumos depois da cirurgia. No entanto, este procedimento cirúrgico tem os seus agravantes. Podem ser problemas na convalescença devido a cicatrizações dolorosas, possíveis danos nos nervos que diminuiriam a sensibilidade e até mesmo constrições que poderiam impedir futuras cópulas. E, como em qualquer intervenção cirúrgica, poderiam ocorrer danos em outros órgãos e surgir complicações em função da anestesia.

Pergunte antes
– O médico é registrado nos órgãos competentes?
– O médico é cirurgião plástico?
– Quantos anos têm de profissão?
– Onde (clínica ou hospital) será feita a cirurgia?
– A cirurgia é o que você realmente precisa?
– O procedimento é estético ou reparador?
– Quais são os riscos que você corre?
– Qual será o tempo de recuperação?
– Se acontecer qualquer imprevisto qual será a providência?
– Quais são os recursos técnicos que o local dispõe?
– Não se deixe levar pelos parcelamentos longos ou facilidades
– Consulte os órgãos competentes sobre a reputação do profissional
– Fuja das soluções baratas e alternativas
– Nem sempre o barato ou mais em conta nestes casos é ideal
– Pague com cartão de crédito ou cheque e exija recibo
– Documente-se de cada passo que der
– Se tiver dúvidas não se submeta a algo que pode provocar arrependimento futuro…

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros