CARTAS de Boston XII

Texto e conteúdo de primeira

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Roma dos romanos

XII

O roteirista, escritor e diretor Oliver Stone (73 anos completos), lançou em julho sua autobiografia chamada Chasing the light, ainda sem tradução em português.

Segundo ele, “é um livro de memórias, porque se refere a um tempo determinado”.

Esse tempo determinado está demarcado por seus primeiros 40 anos de vida. 

Que abrange, mais ou menos, entre seus tempos de soldado no Vietnã (ganhou a ‘Estrela de Bronze de Honra ao Mérito’) e taxista em New York, até receber um Oscar como diretor do consagrado Platoon (1987).

Ele deixa claro que outros assuntos além dos limites do livro estão fora da conversa que concedeu em videoconferência ao jornalista Rocío Ayuso do El País.

A trajetória de Oliver Stone no cinema não pode ser ignorada ou tomada como algo comum. 

É um personagem consagrado e brilhante, tanto como roteirista quanto como produtor e diretor onde aplicou um estilo todo próprio de execução, enquadramento, movimento, posicionamento de câmera e formato.

E seus trabalhos estão aí para serem conferidos por qualquer um: roteiros, produções, entrevistas e direções.

São quatro estatuetas da Academia. 

Melhor Roteiro Adaptado: Midnight Express (Expresso da Meia Noite), em 1978; 

Melhor Filme: Platoon (1987);

Melhor Diretor: Platoon (1987) e Born on the Fourth of July (Nascido em quatro de julho),1990.

Quatro Globos de Ouro: Melhor Roteiro por Midnight Express (1978); Melhor Diretor em Platoon (1986), Born on the Fourth of July (1989) e JFK (1991), que entrou na lista dos filmes mais controversos de todos os tempos.

E dois prêmios no Festival de Berlin, um dos cinco mais concorridos do cinema mundial.

Em 1987 – Urso de Prata de Melhor Realizador e Urso de Ouro Honorário – em 1990.

Segundo o autor, o livro fala de ideias, de sonhos buscados e alcançados. Nada diferente do Oliver Stone que conhecemos através das telas.

Fala de um objetivo que perseguiu a vida inteira. De como aprendeu a dirigir e de sua formação como realizador.

De nunca aceitar um “não” como resposta. 

“Tanta teimosia rendeu seus frutos” como escreveu Ayuso, na reportagem que abriu esse texto.

Basta olhar sua carreira como realizador e diretor.

Alguns filmes populares que colaborou nos roteiros: 8 Million Ways to Die, Evita e Conan the Barbarian.

Sozinho, entre tantos projetos, escreveu dois clássicos:

Midnight Express e Scarface, com Al Pacino “imparável”.     

Alguns críticos de cinema o acusam de “teórico da conspiração”. 

Que seus filmes são manipuladores, mas reconhecem que Stone é sem dúvida, um dos melhores realizadores de Hollywood.

Polêmica? 

“The Putin Interviews” (2017), em mais de uma dúzia de encontros, Stone entrevistou Vladimir Putin na Russia, que gerou uma minissérie de quatro capítulos, onde o presidente abre o jogo e fala sobre tudo.

Snowden” (2016), ex-funcionário terceirizado da Agência de Segurança dos Estados Unidos (NSA) Edward Snowden, entrega uma série de documentos secretos ao jornalista Glenn Greenwald e a cineasta Laura Poitras num hotel em Hong Kong, revelando que o governo praticava e ainda pratica – ninguém aqui acredita que eles tenham parado, né! – atos de espionagem contra cidadãos comuns, corporações estrangeiras e lideranças internacionais.

Mi Amigo Hugo”, documentário feito pela rede de TV Telesur e dirigido por Stone sobre o líder venezuelano Hugo Chávez.

Deixando esses temas de lado, você pode colocar na conta mais umas duas dezenas de projetos relevantes para o cinema e para a televisão.

No livro fala de um casal dividido antes mesmo da separação. Um pai republicano e corretor da bolsa que o incentivava a escrever uma história por semana. 

Uma mãe, francesa, boêmia e rebelde, que transmitiu a ele a paixão pelo cinema.

O conflito do Vietnã que conheceu aos 21 anos como voluntário, sua relação com os profissionais de Hollywood, atores e atrizes.

Fala da energia e do interesse que alguns trabalhos despertam como em Snowden, um filme sem financiamento norte-americano.

Uma necessidade, uma fome que sentiu novamente com a importância do tema, mas diferente do começo de carreira.

Voltando ao El País, sorri na tela do computador ao falar de sua paixão pela escrita.

Uma vantagem que leva na profissão de diretor que lhe permite escrever sabendo a distância exata entre texto e imagem.

Afirma que sua consciência esquerdista foi se formando a partir dos 40, justamente quando o livro termina.

Não pensa em escrever uma sequência. O que foi contada em Chasing the light já é o suficiente.

Gerald D

O gremista Gerald D escreve sobre artes, literatura, futebol e política com muita propriedade e consciência, o que reflete o seu gosto apurado pela boa leitura