Violência física e emocional entre casais do mesmo sexo

Se estiver em um destes relacionamentos e sofrer abusos físicos e emocionais, busque ajuda

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A morte do belga Walter Henri Maximilien Biot, no dia 5 de agosto no Rio de Janeiro, trouxe a tona um tipo de violência pouco difundida. Biot teria sido morto pelo seu marido, o alemão Uwe Herbert Hahn, cônsul do seu país no Rio de Janeiro. A causa da morte de Biot foi traumatismo craniano e ele constantemente reclamava do comportamento violento do marido. A polícia do Rio de Janeiro concluiu que houve de fato um assassinato e Uwe Hahn foi preso e depois libertado por meio de um habeas corpus, viajou de volta para a Alemanha e possivelmente o crime ficará impune no Brasil.

A perícia constatou na autopsia que Biot tinha mais de 30 lesões no seu corpo. Hahn e Biot eram casados há 23 anos e de acordo com o depoimento de uma empregada o casal vivia em constante conflito e as agressões eram uma constante na vida deles.

A violência doméstica de casais do mesmo sexo é mais comum do que se pensa, e as vítimas pouco ou nada reclamam, por receio de terem suas vidas expostas e por isso, quem é agredido ou abusado prefere o silêncio e levar a relação até onde der, as vezes até a morte, como foi o caso do belga Walter Biot.

Sandra Ferreira é psicóloga e terapeuta

O que fazer quando se está em uma relação com pessoas do mesmo sexo e é uma vítima de violência física, emocional e de todo tipo de abuso? “Busque ajuda”, afirma a psicóloga e terapeuta Sandra Ferreira que foi entrevistada pela reportagem do Metropolitan News USA acerca do assunto. Confira as suas respostas a seguir.    

A que se atribui uma violência maior entre casais do mesmo sexo?
O índice mais elevado de  violência entre casais homossexuais se devem a dois fatores:
1. Violência externa (policia, grupos radicais de extrema direita). A origem dessa violência é a homofobia, racismo e discriminação. O atual governo brasileiro e o governo americano anterior instigaram significantemente o ódio, o racismo, a homofobia e o sexismo. Como consequência isso gerou um aumento significante de crimes de ódio na comunidade;
2. As vítimas de violência doméstica em relacionamentos do mesmo sexo estão buscando mais ajuda, denunciando mais em comparação com o passado. Isso faz as estatísticas subirem, mas na verdade é uma realidade que sempre existiu, assim como em casais heterossexuais. A busca de ajuda e denúncias são as formas mais eficientes de eliminar o problema a longo prazo. Quando os abusadores começam a ir para a cadeia por tais comportamentos, eles ficam menos propensos em agir dessa forma e procuram mais ajuda caso tenham tais tendências.

No mais, os casais de mesmo sexo estão sujeitos aos mesmos problemas de relacionamento e de personalidade que outros casais. Momentos de crise e opressão em geral acionam em muitos uma reação de opressão entre si, em decorrência da depressão e falta de mecanismos saudáveis para lidar com o stress.
Um dos grandes desafios de assistentes sociais, psicólogos e autoridades é detectar e combater a violência entre casais do mesmo sexo. Como agir nestes casos?
A melhor forma de prevenir e resolver tais problemas é a informação. Essa reportagem por exemplo, é um instrumento bastante poderoso de divulgação de informações. Então aqui vão os passos mais importantes:
1. Violência NUNCA é a saída para nenhum problema. Venha ela da comunidade, das autoridades ou internas, a violência só irá agravar qualquer problema. Então, quaisquer que sejam suas convicções religiosas ou valores, não faça;
2. Ao notar-se em si mesmo necessidades, tendências ou ocorrências de violência, BUSQUE AJUDA PROFISSIONAL. A psicoterapia oferece múltiplos tipos de tratamento para problemas de violência, desde cursos de controle da raiva, medicações (através de um psiquiatra). Até tratamento de traumas e mudanças de comportamento. Saiba que violência é CRIME e não é justificável por nada;
3. Se você é vitima de crimes de ódio ou violência doméstica, não tenha medo de buscar ajuda profissional. Tanto psicólogos, quanto advocates de minorias, podem te oferecer muitos recursos e suportes para a solução do seu problema, independente do seu status migratório (se você é imigrante documentado ou indocumentado);
4. Para crimes de ódio por homofobia, racismo e discriminação, informem-se, conheçam seus direitos, unam-se uns com os outros. Isso pode trazer as mudanças sociais e políticas necessárias para a garantia dos direitos dessa população, assim como de qualquer outra minoria;
5. Conheça a si mesmo e se trate. Muitas vezes o ciclo da violência se perpetua de geração a geração. Se você foi abusado, discriminado, agredido, em alguns casos você pode se tornar um agressor com seu parceiro(a). De qualquer forma, Os seus traumas NÃO JUSTIFICAM suas ações erradas com o outro, muito menos a violência de qualquer tipo;
6. Se você notar um amigo ou conhecido, mais triste, mais quieto, ausente de eventos sociais que ele frequentava, isolado, sem ligar para os amigos, o procure e pergunte se ele está bem. Se está tudo bem no relacionamento dele(a) e ofereça ir com ele ou ela ao medico. Até mesmo um clínico geral pode ajudar em casos de violência doméstica.
Muitos/as agredidos/as não buscam ajuda por vergonha. O que dizer para essas pessoas?
Isso é realmente um problema sério. Se ninguém sabe que seu problema existe, a ajuda e as mudanças não vem. Não existe vergonha nenhuma em ser vítima de violência. Quem deve se envergonhar é o agressor, que age covardemente, de forma bárbara e animalesca. Seres humanos têm cérebro para pensar. Agir violentamente como animais é portanto, um comportamento sub-humano e inferior. O verdadeiro poder do ser humano está na sua mente, suas capacidades cognitivas de encontrar soluções para seus problemas através do pensamento, da lógica e da comunicação assertiva, sem violência, nem ataques. Quando se compreende isso, entendemos que pedir ajuda e denunciarmos todos e quaisquer atos de violência que sofremos, é algo necessário para a eliminação de tais comportamentos animalescos na humanidade.

Os abusadores sempre fazem você acreditar que o comportamento agressivo dele é sua culpa (culpa da vítima). Mas não caia nessa. Violência e abuso NUNCA são por culpa da vitima. Comece por um psicólogo(a). Ele(a) irá te apoiar e te ajudar passo a passo, sem impor nada, com respeito e empatia pelo seu sofrimento. Irá te dar informações e instrumentos para você tomar as decisões que quiser, no momento que quiser.
Entre casais masculinos, a violência física é potencializada pela força física. Como deve-se agir se as coisas chegarem neste ponto?
Concordo que a violência física é mais por parte de agressores masculinos. Isso também acontece entre casais heterossexuais. Homens, devido a testosterona tem mais tendências agressivas. O que fazer? 
1. Como dito acima, BUSQUE AJUDA PROFISSIONAL. Tendências não justificam ações. Se um homem em qualquer contexto da sociedade age com violência e machuca algum ou destrói a propriedade alheia, ele será indiciado CRIMINALMENTE. De novo, seres humanos normais, homens ou mulheres, são SEMPRE capazes de controlar seus impulsos PELA RAZÃO. Isso é o que os diferencia dos animais selvagens. Até os animais domésticos são capazes de controlar seus impulsos baseados na razão e no afeto. Portanto, não há nenhuma desculpa para nenhum ser humano não conseguir controlar também;
2. A violência masculina é também um construto social. As pessoas aprendem que é ok ser agressivo se você é homem. O que não é verdade. É uma crença falsa baseada na ignorância e falta de educação. As mudanças sociais dessas crenças vem da educação, da informação, das reivindicações, dos movimentos sociais e de uma consciência mais elevada.
Quando um/a parceiro/a deve se preocupar com o rumo de agressões no relacionamento?
O ciclo da violência na grande maioria das vezes é gradual. Um abusador em geral não começa sendo violento desde o início. A violência é progressiva. Os primeiros sinais em geral são comportamentos de controle. Quando isso começa a acontecer, já é uma bandeirona vermelha, então caia fora. Seja por imposição, por chantagem emocional ou financeira. Excesso de controle, colocar o outro para baixo, ofensas, abuso verbal, psicológico, financeiro ou até religioso, na maioria dos casos se tornam mais e mais sérios ate chegar à violência física, principalmente se vem de homens. As estatísticas mostram que 90% dos homens abusadores se tornam fisicamente violentos levando em grande parte dos casos à morte das vítimas. Mesmo que não se tornem fisicamente violentos, a violência psicológica é também extremamente destrutiva para a integridade, saúde e bem-estar das vítimas. Pode gerar câncer, doenças degenerativas e distúrbios emocionais graves que por sua vez também levam à morte. Por isso todo tipo de violência deve ser denunciado e tratado.

“Atendo indivíduos, casais e famílias de todos os tipos. Não há discriminação na ciência e nos atendimentos profissionais sérios. Todos são bem-vindos e respeitados, independente de raça, crença, religião, status migratório, escolaridade, etnicidade, nível sócio-econômico, orientação sexual ou gênero. Meu approach é holístico e sistêmico ou seja, trato os indivíduos e famílias levando em consideração seu contexto familiar, social, histórico, cultural, étnicos, econômico, físio-biológico. Utilizo técnicas tradicionais (psicologia cognitiva) e alternativas (mindfulness, Reiki, hipnose, remédios florais, constelação familiar e regressão)”, finaliza Sandra Ferreira

Prestação de serviço
Sandra Ferreira
Psicóloga e terapeuta
Licenciada no Brasil, em Massachusetts e na Califórnia
Consultórios em Boston, MA e Huntington Beach, CA
Atendimento em inglês, português e espanhol
E-mail: psykologyz11@gmail.com

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros