Inegavelmente existe na sociedade como um todo a cultura do machismo e da violência a qualquer custo. Neste bojo existe a violência doméstica que assola milhões de lares, principalmente nos Estados Unidos onde ela está presente em todos os estratos e camadas sociais.
Depois que Donald Trump assumiu o governo viu-se um considerável aperto em qualquer ocorrência que envolva imigrantes, principalmente os indocumentados. A ordem é não poupar ninguém que tenha cometido crimes, que tenha carta de deportação, que seja considerado um perigo para a sociedade americana, incluindo aí os que praticam e cometem a violência doméstica.
Recentemente, na comunidade brasileira em Massachusetts, pelo menos dois casos chamaram a atenção e mostraram a fragilidade que tais situação provocam em indocumentados. Um deles foi o de Anderson Batista, o DJ Anderson Rodeio que depois de um desentendimento com a namorada foi preso e processado por violência doméstica, após deixar a corte distrital em Marlborough.
O outro caso é o do também brasileiro Douglas Gonçalves, que depois de ter sido acusado de agredir sua ex-namorada foi preso, levado à corte distrital de Framingham, onde pagou fiança e em seguida detido pelo ICE e levado sob custódia. Há outros casos semelhantes que envolvem disputas familiares que terminam em violência doméstica.
Inversão de valores
Ao serem presos presos e colocados em processos de deportação, os agressores via de regra se vitimizam e é muito comum que as pessoas agredidas – incluindo mulheres e homens – sejam pressionadas para mudar depoimentos e circunstâncias. Este é o caso de Rosana. “Viemos para os Estados Unidos há cerca de 10 anos e ele chegou uns meses antes. Depois vim com minha filha que na época tinha três anos de idade. O meu ex-marido é de uma família de agressores, pois o pai e os irmãos delem agridem suas mulheres e ele não fugiu à regra. Eu era funcionária pública em Valadares e muitas vezes deixei de trabalhar porque estava machucada. Nos nossos primeiros meses juntos aqui, ele se comportou e não me agredia. Uma noite depois de chegarmos de uma festa, ele me bateu por causa de ciúmes e aí não parou mais. Muitas vezes eu deixei de trabalhar porque estava machucada. Uma vez ouvi na Rádio 650 uma mulher falando sobre o assunto e procurei ela, pois estava disposta a colocar um ponto final naquela vida de agressões, espancamentos e maus tratos. Porém descobri que estava grávida e neste período as coisas acalmaram um pouco. Nunca chamei a polícia porque ele me dizia que se eu fizesse isto e ele fosse deportado, mataria a minha mãe e meu irmão que é deficiente físico quando chegasse no Brasil. Com a nascimento da minha filha tivemos que nos mudar para um apartamento maior e um dia quando ele me agredia uma vizinha chamou a polícia que veio e o levou preso. Como ele tinha carta de deportação, ao ser liberado pela corte depois de uma audiência foi preso pela Imigração e em março passado foi mandado embora. Quando ele estava na Imigração os primos dele vieram conversar comigo para que eu retirasse a queixa, mas isto não é possível. Eles me pressionaram o tempo todo dizendo que eu também seria deportada, que as minhas filhas passariam fome, que eu não deveria ter chamado a polícia para ele, etc. Um dos primos dele que é cidadão americano disse que ia me denunciar para a Imigração e levou embora um carro que estava quitado. Fiquei muito assustada com tudo mundo me culpando e condenando e decidi me mudar de casa e de cidade, mas mesmo assim eles me acharam e continuaram a me pressionar até que contei tudo para uma cliente minha cujo marido é advogado e ele pediu uma restrining order contra os parentes do meu ex-marido”, diz Rosana.
Deportado, o ex-marido de Rosana não ameaçou sua família no Brasil e atualmente se recupera de um grave acidente de carro. “Quero reconstruir minha vida e criar minhas filhas em um ambiente saudável e sem agressões”, conclui.
Existem outros casos e circunstâncias em que as pessoas agredidas, e portanto vítimas de violência tiveram que mudar de casa por causa de ameaças de parentes e amigos de quem está preso ou foi deportado.
Dicas
– Não se submeta a nenhum tipo de agressões físicas, sexuais ou psicológicas
– Documente com provas, inclusive testemunhais qualquer maltrato que sofrer
– Busque ajuda especializada para qualquer tipo de violência que sofrer
– Se for ameaçada por parentes, amigos e/ou por quem o agrediu, chame a polícia
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