Travessia pelo México, nunca mais…

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Com dívidas por causa do negócio que faliu, com a mulher doente e precisando de tratamento, não havia outra possibilidade para Rubens Bueno do que tentar o visto e vir para os EUA trabalhar e custear pelo menos o tratamento da esposa.

Com dois irmãos e três primos morando e trabalhando em Massachusetts, tentou o visto duas vezes e teve negados os seus pedidos. Rubens sabia de um esquema antigo via México e sem qualquer outra expectativa embarcou na aventura que lhe custou US$ 20 mil, e que teria que pagar para não perder a casa da família no Espírito Santo.

No final de 2012, iniciamos a travessia e logo ao adentrar em território americano, o coitote disse que para facilitar as nossas vidas teríamos que nos entregar para a Imigracão, pois eles nos fichariam, tirariam as digitais e nos liberariam já que não havia espaço para que nos mantivessem presos. Foi o que fizemos e nos liberaram, com a recomendação de que comparecêssemos às cortes. Obviamente nunca fui, pois sabia que se fosse seria deportado. Só que desconhecia que a partir de então seria um foragido e que poderia ser mandado embora a qualquer tempo. Uma vez em Massachusetts, tratei de trabalhar arduamente e consegui pagar o tratamento da minha esposa e também pagar parcialmente os traficantes de pessoas. Só que por um azar, um dia cai da escada na obra em que trabalhava e fiquei por meses sem poder trabalhar. Minha sorte é que meus irmãos e primos me ajudaram e no meio do ano passado fui passar um fim de semana com uns amigos em New Hampshire e na volta o carro quebrou na estrada. Logo a polícia chegou e quando o policial viu que éramos imigrantes pediu documentos. Dos cinco que estavam no carro, três tinham documentos pois são legais e eu e um outro rapaz fomos levados embora e entregues para a Imigração que constatou que eu devia corte e aí não teve jeito. Fiquei detido por 47 dias e fui deportado para o Brasil. Para piorar ainda mais as coisas, cheguei sem dinheiro, sem saúde, pois ainda tinha sequelas do acidente e devendo para o traficante de pessoas. Resultado disto tudo é que perdi a minha casa, tive que começar tudo de novo, além do sufoco que passei nas mãos das pessoas para quem devia a minha ida para os Estados Unidos. Foi tudo tão estressante que um dia pensei em fazer uma bobagem, tamanho era o meu desespero. Lendo nos jornais, vi que milhares de pessoas estão na mesma situação em que me encontrava, pois quando atravessaram a fronteira, se entregaram e depois que isto acontece nada mais pode ser feito. O que revolta ainda mais é que os cotios fazem isto para se livrar das pessoas que a partir daí estão entregues a própria sorte. Ainda hoje luto com os problemas decorrentes do meu acidente, e estou me recuperando financeiramente com a ajuda do meu sogro que tem uma plantação de café, mas não é fácil. Não sei se outras pessoas vão ler este meu depoimento, mas não se envolvam em aventuras das quais possam se arrepender no futuro, pois nada vale a saúde e o bem estar. Sei que a situação aqui no Brasil é das mais difíceis, mas mesmo assim, tem sempre um jeito de se recuperar e equilibrar as contas. A travessia pelo México é uma tortura e um pesadelo e só quem passou por lá é que pode dizer. No meu caso, o pesadelo dura até o dia de hoje”, disse Rubens alertando que outros não façam o que ele fez.

Publicado originalmente no Jornal dos Sports USA. Imagem meramente ilustrativa

 

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros