Quando dezembro chegar

O mundo caminha para o caos ecológico, moral, social, econômico, ético, político...

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O mundo vai acabar em dezembro. Não sabia? Pois é, anda todo mundo falando.

É o assunto das redes sociais, dos jornais, rádios, revistas e televisão.

Milionários estão construindo bunkers nos Estados Unidos e na Europa.

Falam que vai sobrar pouca coisa para contar a história.

E sem essa de religião. A parada é outra.

Se é cristão, muçulmano, judeu, budista, espírita, hinduísta, ateu, o que for.

Não vai importar paixões e generosidades.

Nacionalidade ou ideologia. Se é democrata ou republicano, socialista ou capitalista. Se nasceu em um país rico ou pobre. Nobre ou plebeu. 

Está na imprensa e em todos os lugares. É fato.

O mundo vai acabar em dezembro.

Os que ficarem por aí, segundo estudiosos, por sorte ou azar, serão mortos vivos.

Seres vagando pela terra sem rumo e sem direção.

Portanto, é claro, se pretende fazer alguma coisa de útil nessa vida inútil, trate de começar logo. Restam pouco mais de quatro meses.

Segundo eles, estudando tal fenômeno por anos a fio, vamos virar nada, camarada! 

Nada. Aquilo que nunca deixamos de ser.

Cálculos com extrema precisão garantem que será lenta e permanente.

Vamos desaparecer aos poucos e por completo. 

Lugar que jamais fomos dignos de estar.

Somos de uma raça inferior. De natureza perversa. De caráter dúbio. Seres perigosos e nada confiáveis. Feios, nauseabundos e mal resolvidos.

Não merecemos viver num lugar bonito e generoso. Que nossa ambição desmedida, praticamente aniquilou.

Não temos dignidade e pudor. Somos arrogantes e prepotentes.

Nos falta respeito e conhecimento.

Temos pressa e distração. Falta de medida e cobiça.

O mundo vai acabar em dezembro, garantem alguns cientistas chineses, alemães, suíços e ingleses dos mais avançados centros de pesquisas do planeta.

Como dúvidar dessa gente?

Políticos corruptos, agentes públicos assassinos, traficantes, pedófilos, homofóbicos, misóginos, racistas, ladrões e fascistas não serão perdoados.

Líderes da igreja da esquina, que vendem salvação e prosperidade conforme o valor da doação, terão pouco tempo para ajoelhar e clamar por misericórdia enquanto escondem suas bruacas.

Seus fiéis, gananciosos e ignorantes, terão castigo semelhante.

Todos serão queimados vivos por uma chama leve que vai arder lentamente devorando suas entranhas.

Ouviremos choros de pavor. Gritos de dor lancinantes em busca da morte como desejo derradeiro. 

Não virá em um golpe fatal, dizem eles, pois não haverá dia, apenas noite e lamentações.

Olhos esbugalhados ouvirão gemidos distantes. Vozes desejando um abrigo, um buraco frio para aliviar a alma e o corpo de feridas abertas sendo devoradas por larvas e insetos.

Restaram apenas os esgotos dos grandes centros urbanos para serem divididos com os ratos.

De nada vai resolver o carrão na garagem, a conta bancária, o cartão de crédito, o guarda-roupa, os perfumes caros, as bolsas de grife, os sapatos italianos, os celulares de última geração e os amigos influentes.

No lugar onde iremos rastejar nada disso terá qualquer importância e significado.

Os especialistas asseguram: não passará de dezembro.

O espaço já mandou sinais que os centros ao redor da terra já captaram e decifraram.

E não adianta correr, não haverá abrigo para se esconder.

O silêncio reflexivo em qualquer lugar é o teu norte. 

O aviso está em todos os lugares!

O sol aquecerá a terra. Enchentes, terremotos e catástrofes das mais diversas aconteceram por todos os lugares. Países irão desaparecer por completo.

Cidades transformadas em ruínas e homens sendo devorados por animais famintos. 

Em alguns lugares secas. Em outros, inundações.

Florestas imensas serão devoradas pelo fogo.

Não haverá comunicação, pois todos os satélites cairão como bolas de fogo.

Rios e suas nascentes secarão por completo.

Não haverá água potável e comida para os sobreviventes.

Uns matarão outros, não por maldade, mas por fome.

Hidroelétricas deixarão de funcionar e usinas nucleares explodirão com o forte calor.

Resta pouco tempo. Menos de cinco meses para repensar a vida. 

Ser humilde o bastante para admitir tuas fraquezas e reconhecer teus erros.

Seja capaz ou não, posso apenas garantir uma coisa, tão certa quanto a beleza estonteante de Charlize Theron: estaremos te esperando na escuridão quando dezembro chegar. 

Gerald D

O gremista Gerald D escreve sobre artes, literatura, futebol e política com muita propriedade e consciência, o que reflete o seu gosto apurado pela boa leitura