Não entre em barca furada

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Vivemos em um lugar onde o que não falta são histórias tristes e que chocam pela riqueza de detalhes com que são contadas. Jorge Antonio é um destes que contam o que passou. Jorge morou durante quatro anos em Londres, depois que enamorado por uma mulher saiu daqui dos Estados Unidos para acompanha-la na Inglaterra. Mesmo que seus primos e amigos desaconselhassem que fosse embora, pouco importou pois ele estava determinado a ir de qualquer jeito. O processo de legalização americano foi abandonado e lá se foi Jorge.

Em Londres as coisas não caminharam nada bem, e o namoro não durou mais do que seis meses e ele não podia voltar atrás, pois estava envergonhado e sem coragem de dizer aos primos e amigos que ficaram nos Estados Unidos que as coisas estavam dando errado lá na Europa.

Jorge morou num lugar péssimo, trabalhou em diversos empregos e nunca conseguiu se firmar em nenhum deles, para piorar ainda mais a sua situação, ele se acidentou enquanto trabalhava como motoboy e ficou dois meses sem poder trabalhar e só não passou fome porque uma das pessoas que dividia a casa com ele trabalhava num restaurante indiano e todos os dias levava comida.

Além do que, lá há sempre a tensão e o medo de ser pego pela imigração inglesa e ser mandado embora o que de fato aconteceu com ele. Oficiais da imigração abordam pessoas nas ruas e pedem documentos. Durante o período que Jorge ficou lá, trabalhou com documentos de um português que comprou pagando 500 euros.

O dinheiro que levou dos Estados Unidos durou um tempo e depois começaram as dificuldades devidamente omitidas de todos no Brasil e na América, primeiro por vergonha e depois por orgulho e amor próprio.

A aventura dele terminou de modo abrupto. Um dia Jorge foi num aniversário na casa de um colega de trabalho e lá aconteceu uma briga que ele não teve nada que ver e um vizinho chamou a polícia e com a polícia veio a imigração e algumas pessoas foram presas e ele estava no meio.

Em poucos dias desembarcava no Brasil com a roupa do corpo, sem dinheiro e carregando a sua frustração, a mala com as suas poucas coisas um colega tratou de mandar algumas semanas depois. A sua aventura terminou de modo melancólico e ele lembrou das coisas que havia conquistado nos Estados Unidos. Carro, boas roupas, respeito das pessoas, e disto tudo só sobrou a casa no Brasil que ele comprou e pagou trabalhando duramente.

Se pudesse voltar no tempo jamais teria ido embora para a Inglaterra onde tudo deu errado para mim, e tenho que admitir que entrei numa verdadeira barca furada. Isto me levou a pensar de quantas pessoas que iludidas por qualquer coisa não ouvem conselhos, não aceitam sugestões e fazem as coisas que lhe dão na telha e depois se arrependem. Os Estados Unidos ainda são a terra das oportunidades, e por mais difícil que as coisas estejam, as oportunidades, vão surgir mais cedo ou mais tarde. Por isso, meus amigos e amigas, nada de ir embora, e posso dizer com certeza de que esta é a minha história. Se tivesse ficado, estaria em outro patamar e hoje trabalho nas mesmas coisas que fiz anos atrás. Vejo pelos meus amigos daquela época, onde estão e o que conquistaram”, diz Jorge que voltou aos Estados Unidos e tenta recuperar o tempo perdido e resgatar as coisas que disse ter perdido.

Imagem meramente ilustrativa

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros