Da série de reportagens sobre imigração publicadas pelo Jornal dos Sports USA em 2013, está a de F. Valter, um brasileiro que enfrentou dificuldades na vida e depois de muita luta conseguiu o que desejava nos Estados Unidos. Hoje, Valter mora no Brasil onde se dedica a projetos sociais mantidos por ele e por amigos
‘- F. Valter. – F. Valter! – F. Valter!’ Foi só na terceira vez é que Valter viu que era a vez dele ir buscar a sua certidão de naturalização. Naquele instante passou um longo filme na sua cabeça e aos 62 anos se deu conta que era um vencedor, que já havia superado tantas lutas e dificuldades para estar ali junto com outras centenas de pessoas. Os passos de onde estava sentado até a mesa aonde uma pessoa que ele não lembra se era um homem ou uma mulher lhe entregou o certificado e a bandeira dos EUA, pareceram durar horas. ‘Só sabia chorar, mas desta vez não era um choro amargo, de dor ou de tristeza. Era um misto de alegria, satisfação e de dever cumprido para comigo mesmo, já que havia jurado um dia chegar ali. Desde que sai do Pará para o Rio de Janeiro depois de enterrar minha mãe e com 17 anos ao lado da minha irmã, queria somente deixar para trás um passado de dor e frustração. Minha irmã, com 10 anos era a única coisa que me restava e fui morar junto com um compadre do meu pai no Morro da Mangueira. O homem nos recebeu por consideração ao meu pai e a vida ali era dura pois dividíamos a pequena casa com os seis filhos, a mulher e a mãe dele. Fiz de tudo, só não fiz nada de errado e ao me alistar na Marinha tinha a perspectiva de ter uma vida diferente. Tornei-me oficial e passei 10 anos na Marinha até que vim para a América em 1978. Dois anos depois trouxe a minha irmã e constitui minha família. Porém só consegui minha legalização em 2003 e há quatro anos me tornei cidadão americano. Hoje me dedico a projetos sociais no Pará e em outras regiões pobres do Brasil e jamais me esqueci de onde vim e agradeço todos os dias aonde cheguei e se viver 100 anos não vou conseguir sentir a sensação de ouvir meu nome sendo chamado para ir buscar algo que me pertencia de fato e de direito”.
F. Valter mora no Rio de Janeiro e vem aos EUA a cada seis meses para visitar os filhos, os netos, a irmã e os sobrinhos.
Imagem meramente ilustrativa
