Filhos, por que tê-los

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Nota do Editor

Esta reportagem foi publicada em novembro de 2006 na Refletir Magazine e é republicada agora, pois os personagens retratados nela – Daniel Victor & Victoria completam nesta quinta-feira, 22 de maio, sete anos de idade.

Glória Sterianos tomou um grande susto há dois anos, quando teve uma trombose durante uma cirurgia no Brasil. Quando a sua médica americana viu a documentação clínica disse que o fato dela estar viva era um verdadeiro milagre. Em decorrência disto, Glória teve que suspender o uso de pílulas anticoncepcionais e em janeiro de 2006, descobriu que estava grávida. Foi o segundo susto.

Mattew e Gloria Sterianos
Mattew e Gloria Sterianos também foram retratados na reportagem. Reprodução

Quando Angelo, o seu marido ficou sabendo da gravidez da esposa se emocionou, pois – ambos – passados dos 40 anos, faziam planos para adotar um menino e se surpreenderam com a notícia. Há dois meses nasceu Mattew e a tendência de Glória e Angelo é seguida por muita gente, que mesmo enfrentando uma série de dificuldades não hesita em momento algum de abrir mão do sonho de ter filhos. Glória realizou num mesmo ano o sonho de ser mãe novamente e de ser avó – Mel a filha mais velha dela, vai ser mãe de uma menina em dezembro.

Enquanto alguns casais buscam a maternidade, em outras partes do do mundo é possível ver a diminuição de nascimentos. Desde o fim do comunismo a população da Rússia vem diminuindo cerca de 700 mil pessoas por ano – perdeu cerca de 6 milhões de habitantes; a Itália enfrenta uma crise de natalidade que causa preocupação das autoridades e países como a Alemanha e França enfrentam os mesmos problemas.

Nestes países a medida que a população vai envelhecendo, não há nascimentos suficientes para o aumento da expectativa de vida e para o aumento cada vez maior da população de idosos. O Japão é outro país que vê a sua população diminuir a cada novo ano. As previsões são de que a população diminua em 43 milhões de pessoas até 2050 – hoje são cerca de 143 milhões.

Os reflexos disto são visíveis em muitos lugares. 28% da população americana – 300 milhões de pessoas, têm menos de 20 anos, contra 20% na França e na Alemanha e 19% na Itália e no Japão. Já no Brasil são 36% da população. As autoridades fazem previsões de que estes jovens – na faixa dos 20 anos – se tornem pais com a idade média de 27 anos, trazendo uma perspectiva sombria para os países desenvolvidos. Até a década de 70 a média de idade era de 22 anos. Na mesma década de 70 um casal tinha em média quatro filhos, hoje eles dois filhos – considerando os países desenvolvidos, o que contribui para perspectivas sombrias no futuro. Uma outra tendência é a de que cada vez mais pessoas, principalmente na Europa, opte por ter animais de estimação em vez de filhos, ou ainda tê-los mais tarde, depois dos 30, anos.

A queda dos índices demográficos são evidentes também na Espanha, que registrou nos últimos dez anos os menores indicadores da sua história. Aliás, a queda dos índices de natalidade é um fenômeno que tem implicações sérias na economia dos países desenvolvidos. Em contrapartida, nos países em desenvolvimento os índices de natalidade são altíssimos, o que faz com que os respectivos índices de mortalidade sejam também elevados. Já na China ter mais de um filho é ser penalizado pelo estado que controla a natalidade com mão de ferro, pois a preocupação é a explosão demográfica. Uma outra característica da China, é que os filhos são na maioria das vezes criados pelos avós, pois os pais invariavelmente trabalham fora. Na contramão, a Itália oferece vantagens, como o pagamento do parto e de oferecer ajuda para quem quiser ter mais de um filho.

A concepção é buscada por uns e rejeitada por outros. Sofia Loren, a belíssima atriz italiana certa vez disse que ser mãe é padecer no paraíso, para justificar o peso da maternidade, talvez, porque os filhos lhe davam trabalho ou pelos quilos extras advindos da gravidez. Mesmo assim, Sofia teve dois filhos.

Se por um lado a opção de não ter filhos é colocada em prática por muita gente, a maternidade tem sido uma busca constante por casais de todas as idades e lugares. Daniel e Consuelo Santos estão casados há 14 anos, e seis meses após o casamento, Consuelo parou de tomar anticoncepcionais, e em 1995 exames clínicos revelaram o o problema que impedia o casal de ter filhos.

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Daniel e Consuelo Santos ao anunciarem a gravidez de Daniel Victor e Victoria. Foto: Jehozadak Pereira

Morando há cinco anos nos Estados Unidos, ao passar por uma consulta de rotina no Mount Auburn Hospital em Boston, foi indicado ao casal que se consultasse com o doutor Allan Penzias, endocrinologista e especialista em reprodução humana. O doutor Allan atende duas vezes por mês cerca de 30 pessoas cada vez, e mantém uma agenda sempre cheia de pessoas que buscam ajuda para realizar o sonho de ter filhos.

Entre maio e setembro deste ano, após o tratamento com o especialista, Consuelo se submeteu a fertilização em vitro – veja abaixo – no Boston-IVC, um dos mais conceituados centros de reprodução humana em Massachusetts. A chance de engravidar na primeira vez é de 30 a 40%, sendo que são colocados dois embriões, com chances de 35% de que vinguem os dois. Para alegria de Daniel e Consuelo Santos, ambos embriões vingaram, e eles terão em maio de 2007 gêmeos, sendo que muitos casais não conseguem êxito no tratamento, o que aumentou ainda mais a alegria dos futuros pais.

A opção de tratamento escolhida pela casal Santos é dispendiosa – algo em torno de US$ 18 a US$ 20 mil, dos quais eles pagaram US$ 6 mil, pois o resto é coberto pelo seguro-saúde.

Eles foram favorecidos pois, há uma lei no Estado de Massachusetts, que obriga que os seguros paguem o tratamento utilizado. A comunidade brasileira vive hoje um baby boom – e novas crianças nascem todos os dias, o que pode ser confirmado em qualquer igreja ou lugar onde se reúnem brasileiros, pela enorme quantidade de mulheres grávidas.

São meninos e meninas cada vez maiores – e com saúde, mais belos e mais inteligentes do que as crianças que nasciam há 20 anos.

Para as mães e pais, os filhos são a reafirmação dos sonhos e de ver neles realizado tudo aquilo que um dia sonharam para si mesmos. Mais importante ainda é saber que estes filhos de brasileiros nascidos na América terão a oportunidade que seus pais não tiveram, pois as portas não estarão fechadas para eles, como muitas vezes estão para os seus pais.

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Consuelo, Daniel, Daniel Victor e Victoria sete anos de alegria e gratidão. Reprodução

São pais, que não ligam para nenhum obstáculo, como a idade – Glória e Angelo, os problemas – Consuelo e Daniel, ou para qualquer outra adversidade – os milhares de brasileiros que optam por ter filhos, mesmo sabendo que o mundo tem se tornado um lugar cada vez mais difícil de se viver a cada ano que passa.

Enquanto uns optam por ter filhos, outros desprezam o privilégio da maternidade e da paternidade, seja por evitá-los por métodos contraceptivos ou por optar irresponsavelmente pelo aborto.
Saiba mais
O que é fertilização in vitro?
A fertilização in vitro, também chamada de FIV ou de bebê de proveta foi uma das grandes conquistas no tratamento da infertilidade.
É reservada para casais que já tentaram outras formas de tratamento ou para aqueles que tem impossibilidade de obterem uma gravidez por métodos naturais ou assistidos.
Vários óvulos são removidos do ovário após uma indução da ovulação com medicamentos. A remoção destes óvulos é feita através da vagina orientada por ultra-som endovaginal.  Estes óvulos são fecundados com os espermatozóides do marido. Ou de um doador caso o marido não tenha nenhuma possibilidade de produzir espermatozóides.
Uma variação importante desta técnica é a quando apenas um espermatozóide é injetado no óvulo através de micromanipulação. Após o acompanhamento microscópico destes embriões é realizada a transferência de não mais de três para o útero.
Hoje, praticamente, só se faz a fertilização in vitro já que seus resultados são melhores. Uma das indicações desta técnica é também a possibilidade de uma mulher sem óvulos receber os óvulos fecundados de uma doadora e abrigar os embriões em seu próprio útero.

 

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros