Felicidade: ritual ou processo?

Felicidade é deixar uma marca positiva no mundo, é abençoar quem precisa

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A felicidade está nas coisas simples da vida. Foto: Jehozadak Pereira/MNUSA

“Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora”; esta frase é parte da famosa canção de Lupicínio Rodrigues também interpretada por tantos outros ícones da música popular brasileira. Ela revela ao mesmo tempo a melancolia e o desejo por uma vida simples e sincera, na opinião do autor, a expressão da felicidade. Mas também revela uma verdade: vivemos em busca de felicidade. Procuramos por ela no amor, nos bens e posições. Lutamos por preservá-la por tanto tempo quanto for possível. E parece que assim como na brincadeira do cachorro que persegue o seu rabo sem nunca poder alcançar, estamos nós na busca por felicidade.

O problema, na minha opinião, é que perdemos o foco do que é felicidade. Igualamos felicidade a ter, a possuir. Equiparamos-a com bens, com coisas. Quem tem é feliz. Quem não tem é infeliz. Até a igreja agora ensina assim. Mal sabemos que o verdadeiro infeliz é aquele que pensa que ter é sinônimo de felicidade. Infeliz é aquele que na busca de felicidade, entenda-se ter, se esquece da vida, dos amores, dos amigos, da família, das coisas simples e acima de tudo de Deus, que aliás, é a única fonte de verdadeira felicidade. Infeliz é aquele que na busca desenfreada por felicidade, que é a razão da vida, perde a própria vida, que é a razão da felicidade.

Como resolver então esta equação? Transformamos a felicidade em alvo. Ela se tornou o objeto da nossa vida. Perseguimos e persistimos em buscá-la a todo preço. Mas na verdade a felicidade nunca deveria ser o alvo e sim o processo. É nele, processo, e não nele, alvo, que vivemos a felicidade. Do contrário chegaremos lá, alvo, e não encontraremos o que sempre esteve no processo. Porque o alvo não é a vida, a vida se encontra no processo, na caminhada, na história.

Portanto felicidade não é a casa grande e bonita, decorada com os móveis sonhados e situada na vizinhança cobiçada. Isto é alvo. Mas a felicidade são os anos de sonhos, projetos, decisões, economias, escolhas e concessões que um casal fez para adquirir a casa própria. Felicidade não é a quantia financeira investida ou guardada, isto é alvo. Mas felicidade são os passos dados na estrada da vida, são as lutas enfrentadas, as vitórias amealhadas, as derrotas e dificuldades enfrentadas com coerência e firmeza.

Felicidade é vivermos cada dia com as expectativas do primeiro e com a coerência do último. É não nos vermos como super-homens, imortais. Felicidade é perceber minha humanidade, fragilidade, dependência do outro, incoerências e limitações. Felicidade é perceber o outro como parte da vida, é valorizar o outro como meu parceiro de caminhada, é amar com liberalidade e sinceridade, é lutar com determinação, é perdoar sempre, é honrar, é marchar sem retroceder, é deixar uma marca positiva no mundo, é abençoar quem precisa.

Creio que talvez seja por isso que Moisés escreveu uma oração relatada no Salmo 90.12 que diz – “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio”.

Manoel Oliveira

Manoel Oliveira, D.Min, é pastor Presbiteriano ligado à P.C.A. Plantou e pastoreia desde 1999 a New Life Church em Framingham, Massachussets, USA. É casado com Ana Célia e pai de Sarah e Pedro. Conecte-se com o pastor Manoel Oliveira nas redes sociais: Facebook: fb.me/prmanoeloliveira Instagram: instagram.com/manoeloliveiranlc Youtube: youtube.com/c/prmanoeloliveira [...]