Ramalho e seu clarim de talo de mamona
Poucos se lembram de Tarzan, Jaime de Carvalho, Paulista, Dulce Rosalina e Juarez. Eram os chefes de torcida, do Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco e Bangu. Foram líderes destas torcidas, até o início da década de 1970, quando começaram a surgir facções independentes dentro destas torcidas, com isso, as torcidas foram perdendo suas lideranças e abriu-se uma porta perigosa para a entrada de torcedores-malfeitores, que levaram o afastamento de muitas famílias dos estádios.
Com certeza, hoje em dia, nenhuma torcida tem um torcedor, como o Ramalho, torcedor do Vasco da Gama, que durante duas décadas, assistia aos jogos do Vasco, andando de ponta a ponta da torcida, tocando seu clarim feito de talo de mamona. Quando o jogo estava tenso, ou quando o Vasco estava sendo pressionado, ouvia-se o clarim vibrante de Ramalho, atacando acordes de marcha da ópera Aida. Era a senha pra despertar a torcida comandada por Dulce Rosalina, nas arquibancadas e o time em campo. O mais importante é que era o Ramalho só. O Ramalho, não se confundia com a torcida organizada, com a charanga, com a massa. E a memória da torcida e do time do Vasco, que substitui o clarim do Ramalho, que o faz tocar o clarim mesmo ausente. Foi o que aconteceu em dois jogos do campeonato, na derrota para o Flamengo e no empate com o América. Os jogadores sentiram isso e correram ao presidente Antonio Soares Calçada. Onde é que anda o Ramalho?
O presidente Calçada conheceu Ramalho, quando ele apareceu com um memorando, em que o Vasco eliminava o Sr. Domingos do Espírito Santo Ramalho, do quadro social por falta de pagamento. Foi nesse dia que o presidente Calçada, soube que o Ramalho, além de torcedor, era sócio da Vasco. A verdade é que Ramalho, não tinha posses para pagar as mensalidades do Vasco. Era estivador no Cais do Porto, tinha mulher, e cinco filhos, eram sete bocas pra alimentar. Todo domingo, acordava bem cedo e ia em Duque de Caxias, para cortar os talos de mamona, pra fazer seu clarim, e depois ia para o jogo.
Calçada, sentiu as dificuldades de Ramalho, que mesmo pagando a mensalidade, tinha que pagar o ingresso da arquibancada, afinal, o lugar de Ramalho, era na arquibancada. Calçada foi à tesouraria do clube com Ramalho, pagou as mensalidades atrasadas e ainda pagou um ano adiantado de mensalidades.
Era preciso saber o que tinha acontecido com Ramalho, Calçada junto com o Antonio Pires e o João Rodrigues, foram à casa de Ramalho, em Bonsucesso. O Vasco jogava no domingo contra o Bangu e a torcida e os jogadores do Vasco, não podiam ficar esperando a clarinada de Ramalho. E se o Ramalho, não viesse? Calçada, soube que Ramalho, tinha operado um calo na boca, provocado pelo talo de Mamona. O Vasco procurou o médico, pagou a operação de Ramalho e, quis saber se ele podia tocar no domingo. Ramalho, disse que mesmo que não devesse, tocaria. O Vasco fazia questão que não faltasse nada ao Ramalho. Na volta para o clube, Calçada disse para Pires “vou direto para a Tesouraria, pagar mais dois anos de mensalidades, pro Ramalho”. No domingo, quando o Vasco entrou em campo, ouviu-se mais forte do que nunca, o toque do clarim de talo de mamona, do Ramalho. A torcida do Vasco, explodiu nas arquibancadas e os jogadores do Vasco, aplaudiram em campo. Ah, nunca mais apareceu um torcedor como o Ramalho.
Foto: redes sociais. A coluna De Canela é sempre publicada anteriormente no JS News