Daniel Alves e o racismo no futebol

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Banania

A ofensa racial sofrida por Daniel Alves no domingo, 28, explodiu com força jamais vista no mundo do futebol. Quando o idiota que se diz torcedor do Villareal atirou a banana no brasileiro jamais poderia imaginar as reações de todos, a começar do próprio Daniel Alves que comeu a fruta (foto) diante de milhares de pessoas no estádio e de milhões de testemunhas da injúria sofrida por ele. O ato não passou despercebido ou com olhares enviesados como das outras tantas vezes que isto já aconteceu num passado recente ou distante. O próprio clube agiu rápido ao identificar o torcedor e bani-lo dos seus jogos para sempre, o que não significa que esteja isento de punição por parte da Real Federação Espanhola, da Uefa e da Fifa. A sensação no dia seguinte era a de que desta vez é necessário dar um basta definitivo para o problema ou então jogar de portões fechados, o que seria a falência definitiva do futebol de uma vez por todas e da dignidade humana para todo o sempre.

Contra o Zaragoza em 2006 Samuel Eto’o foi ofendido e por pouco não deixou o gramado em protesto

Idiotia congênita
Dezenas de negros, principalmente africanos jogam no futebol espanhol, contribuindo para o engrandecimento e riqueza, e muitos deles têm pelo menos uma história de racismo e preconceito para contar. Em fevereiro de 2006, num jogo do Barcelona contra o Zaragoza pelo campeonato espanhol, o camaronês Samuel Eto’o então considerado o melhor jogador africano no futebol espanhol, e um dos melhores atacantes do mundo, foi alvo de atitudes racistas, e só não abandonou o campo porque foi contido pelos seus companheiros e pelo árbitro da partida. Para irritar Eto’o, a torcida adversária imitava macacos com gritos e gestos, além de muitas vezes torcidas de diversos times espanhóis jogarem bananas quando Eto’o estava em campo. Algumas vezes ele precisou ser contido para não abandonar o campo, e na ocasião a Real Federação Espanhola lançou uma cartilha condenando totalmente o racismo e o preconceito.

Idiota de plantão
Falecido recentemente, o técnico Luiz Aragonés certa feita chamou o atacante francês Tierry Henry de negro de “merda”, durante um treinamento da seleção espanhola que ele dirigia. Diante da repercussão negativa do fato, ele disse que era somente uma brincadeira e que quis somente incentivar o centroavante Reyes que era reserva de Henry no Arsenal de Londres. Curiosamente, Aragonés incentivou que o volante brasileiro Marcos Senna se naturalizasse espanhol e depois o convocou para a seleção espanhola, e assim como as seleções da Alemanha, Itália e Suíça passou a ter jogadores negros defendendo as suas cores, mesmo que o racismo não aconteça somente em campos espanhóis, mas em quase toda a Europa.

Paolo di Canio
Depois da partida contra a Roma em 2005, Paolo Di Canio foi até uma torcida ‘ultra’ conhecida por ser fascista e fez a clássica saudação dos seguidores de Benito Mussolini

Aviltante
Paolo Di Canio, era capaz de não fazer um gol quando o goleiro do time adversário estava caído, e por conta disto receber da FIFA um prêmio especial e por outro lado se dizer admirador confesso de Benito Mussolini, a ponto de ter tatuado no seu corpo o rosto do Duce – apelido de Mussolini. Em 2005 depois de um jogo da Lazio contra a Roma, Di Canio saudou a torcida do seu time com o braço estendido – a saudação dos fascistas, e foi multado por causa disto. Pressionado a renunciar aos seus duvidosos gostos políticos, Di Canio deu mostra de intolerância racial e afirmou que nasceu fascista e vai morrer fascista. Foi considerado um idiota por muitos que não perdoaram suas declarações. Di Canio foi multado duas vezes e suspenso por dois jogos por gestos racistas e na juventude fazia parte de grupos radicais, e até hoje tido como um ídolo da torcida da Lázio que costumava ser saudada por Di Canio com o tristemente célebre gesto nazista do braço esticado.

Neo-cretinos
Aliás, é na Itália, onde mais se vê a presença de neo-nazistas nos estádios portando bandeiras e símbolos do nazismo, além de portarem também símbolos do fascismo de Mussolini. Torcedores racistas costumam passar dois dedos sobre um dos seus braços, para indicar que o problema é de pele. O atacante Mario Balotelli foi ofendido num jogo da Eurocopa contra a Croácia em junho de 2012. Em fevereiro de 2013 a Internazionale de Milão foi multada em US$ 70 mil por que sua torcida insultou Balotelli com ofensas raciais. Em janeiro de 2013, o meia Kevin-Prince Boateng sofreu com o racismo de torcedores do Pro Patria, um time da quarta divisão da Itália, num amistoso da pré temporada. Kevin abandonou o campo e foi seguido pelos jogadores dos dois clubes

Espelho 
Jogadores de futebol, principalmente os que jogam na Europa, frequentemente são vítimas de intolerância racial, preconceito e xenofobia. Recentemente, Tinga, meia do Cruzeiro foi a vítima da vez numa partida do seu clube contra o Real Garcilaso no Peru em jogo válido pela Copa Libertadores, que como se sabe é uma nação miscigenada. A torcida peruana fazia sons imitando um macaco cada vez que Tinga pegava na bola. O fato revoltou o fundo do futebol e provocou reações imediatas de autoridades e até a Fifa pediu explicações, se é que existe alguma explicação para tanto. Rússia e Itália além da Espanha são alguns dos países onde o preconceito contra negros e estrangeiros é mais frequente no futebol. O Zenith da Rússia onde joga o brasileiro Hulk é um clube cuja torcida é useira em ofender jogadores negros e estrangeiros e se orgulham do fato jamais na história do time um jogador não branco vestiu a sua camisa – fato que foi quebrado recentemente. Torcedores do Zenith chegaram a ir em alguns jogos vestindo capuzes brancos ao modo dos racistas americanos da Ku Klux Klan e além de entoarem cantos racistas e preconceituosos por causa disto foram ameaçados de banimento das competições da Fifa e da Uefa. A Uefa reagiu e ameaçou banir o Zenit da competição se as manifestações racistas não fossem coibidas pelo clube. O certo é que nunca mais foram mais observados torcedores encapuzados e nem se ouviu mais nenhum xingamento contra jogadores negros de outros times.

 

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros