XI
Ao escrever o ensaio Politics and the English Language (A Política e a Língua Inglesa), publicado em 1946 na revista Horizon, o escritor George Orwell incluiu seis normas para escrever bem.
Não existe regras para escrever, mas ter em mãos propostas de um escritor do nível de um Orwell ajuda e muito.
E são ideias tão boas que estão no Manual de Estilo da revista Economist, uma das mais bem escritas e prestigiadas do mundo.
1) Never use a long word where a short one will do.
2) If it is possible to cut a word out, always cut it out.
3) Never use the passive when you can use the active.
4) Never use a metaphor, simile or other figure of speech which you are used to seeing in print.
5) Never use a foreign phrase, a scientific word, or a jargon word if you can think of an everyday English equivalent; and finally.
6) Break any of these rules sooner than say something outright barbarous.
A ideia no bom e velho português:
1) Não use uma palavra longa se uma curta resolve.
2) Se for possível cortar uma palavra, corte.
3) Nunca use a voz passiva quando puder usar a ativa.
4) Nunca use figuras de linguagem que você esteja acostumado a ler por aí.
5) Nunca use uma frase estrangeira, uma palavra cientifica ou um jargão se você puder imaginar uma equivalente do dia-a-dia.
6) Quebre qualquer uma dessas regras antes de escrever algo que soe tosco.
O texto era uma crítica a linguagem política, principalmente, mas seus conselhos poderiam ser aplicados a qualquer gênero.
Alguns anos atrás o jornal britânico The Guardian, por exemplo, criticou como escrevemos na internet.
Escrever bem não é nada complicado e causa boa impressão.
Numa época sem tecnologia avançada, ele antecipava o poder do estado e suas instituições sobre a liberdade das pessoas.
E essa preocupação com a linguagem não era algo exclusivo dos escritores profissionais.
Acreditava que certos conceitos como justiça, liberdade e verdade poderiam ser ilusórios.
E tal manifesto fica explícito em seus textos.
Se livrar dos maus hábitos pode ajudar a pensar com mais clareza e pensar com clareza é o primeiro passo.
São dois os problemas principais de muitos textos: as imagens banais e a falta de precisão.
Quando escrevemos, afirma ele, devemos deixar que “o significado escolha a palavra, e não ao contrário”.
Pensar bem no que vai escrever para evitar surpresas e imagens desgastadas ou confusas, frases pré-fabricadas, as repetições desnecessárias, enganos e imprecisões tão comuns.
George Orwell escreveu até sua morte em 1950, antecipando muitos fatos que testemunhamos hoje e que seriam complicados para alguém prever e sustentar naqueles tempos da máquina de escrever.
Como estudante bolsista no Elton College, escola de elite, entre 1917 e 1921, publicou seus primeiros textos no suplemento da instituição.
Uma curiosidade: Orwell foi aluno de Aldous Huxley, autor do best-seller Admirável Mundo Novo.
Em 1922, alistou-se na Polícia Imperial da Índia e foi para a Birmânia, onde serviu por cinco anos até dar baixa.
Entre 1928 e 1929, morou praticamente pelas ruas da Inglaterra e França pegando qualquer tipo de trabalho e convivendo com mendigos e criminosos.
Nesse período começou a escrever os primeiros rascunhos de sua primeira obra, Down and Out in Paris and London (1933), um relato de suas aventuras pelas ruas de Paris e Londres.
A brutal realidade das ruas, a miséria humana, o descaso do estado, a indiferença da sociedade com os pobres, serviram para estruturar parte de sua obra e sua inclinação ao socialismo.
1934, Burmese Days (Dias na Birmânia);
1935, A Clergyman’s Daughter (A filha do Reverendo);
1936, Keep the Aspidistra Flying (Mantenha o Sistema);
1937, The Road to Wigan Pier (A Estrada para Wigan Pier);
1938, Homage to Catalonia (Homenagem à Catalunha);
1939, Coming Up for Air (Um Pouco de Ar, Por Favor!);
1945, Animal Farm (A Revolução dos Bichos);
1949, Nineteen Eighty-Four (1984).
Suas obras comprovam sua ternura, revelam parte de sua personalidade e sua contrariedade a um sistema opressor, desigual, injusto e mentiroso.
“Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário”.
Mais atual impossível!
Por isso seus livros estão mais presentes do que nunca.
Buscados, lidos, pesquisados e analisados como algo novo.
Parece que ele é um escritor do nosso tempo, andando por aí, aparecendo na televisão e no celular, participando de lives como um mortal comum.
Lembrando para ficarmos espertos e sussurrando que liberdade e direito são termos abstratos que só os tolos acreditam.