CARTAS de Boston # VIII

Texto e conteúdo de primeira

0
822
Roma dos romanos

VIII

A base central do ensaio, “Uma Resposta à Pergunta: o que é Iluminismo?”, de Immanuel Kant, de 1784, revela que a maturidade se conquista por meio da razão, que deve se opor à preguiça e à covardia na escolha de caminhos próprios para o indivíduo.

A maturidade consiste em assumir a responsabilidade da razão crítica em questões políticas e morais.

A razão crítica manifesta-se quando o indivíduo consegue questionar suas mais caras e confortáveis convicções.

A etapa inferior ou anterior, chamado Menoridade, é para Kant, a fase onde o ser ainda não possui nenhum tipo de emancipação intelectual. Incapaz de servir-se de seu entendimento, de seu pensamento. Ainda não faz uso de sua própria razão. Age impulsivamente e necessita da direção de outras pessoas como tutores ou conselheiros. 

E dessa incapacidade, ele, o homem, é o único responsável.

A frase Sapere Aude! Ouse ser sábio. Seja ousado. Tenha coragem de pensar por si mesmo na tradução livre, foi adotada por Kant para o seu ensaio.  

Apareceu no Primeiro Livro de Letras do poeta romano Horácio (20 aC) e foi associada ao movimento iluminista pela Europa durante o século XVII e século XVIII.

Kant adotou Sapere Aude como lema e foi usada por ele para desenvolver suas teorias da aplicação da razão na âmbito público dos assuntos humanos.

A origem desse movimento iluminista chama-se René Descartes. 

Autor da frase, “Penso, logo existo”, filósofo e matemático, criador do pensamento cartesiano que deu origem à Filosofia Moderna, Descartes acreditava na existência de uma única e absoluta verdade. 

Para alcançá-la, avançou no método da dúvida, que dizia que devemos questionar todas as ideias e teorias preexistentes.

Um sujeito cartesiano pensa.

O ser humano tem a consciência que existe pela capacidade de pensar e desenvolver um raciocínio, logo se possui essa condição está perfeitamente demonstrado a sua existência.

Em oposição a este elemento, surge o elemento moderno que é claramente visível na poesia de Fernando Pessoa.

A partir do período moderno aparece o homem influenciado pelo meio em que vive e que surge fragmentado e não único como até então.

Nesta formulação, contudo, Kant, em defesa da monarquia de Frederico, o Grande, considerava o excesso de liberdade política como obstáculo à liberdade intelectual, assegurando que um nível menor de liberdade política favorecia a plena manifestação de liberdade intelectual.

É oportuno lembrar que os governos republicanos da época iluminista buscaram propiciar a máxima liberdade política aos cidadãos, sendo que nos Estados Unidos, as liberdades civis restringiram-se aos homens brancos, pois, como é de conhecimento de todos, aqui o governo republicano coexistiu com o escravismo e com o respeito extremo a religião.

O que não deixa de ser um paradoxo, sem dúvida!

Já na França, de iluministas como Montesquieu e Voltaire, ao contrário, a República não pressupôs a divisão entre homens livres e escravos, assim como substituiu através da força a fé religiosa pelo culto da razão, transformando igrejas tradicionais em lugares de reuniões laicas.

No Brasil a ideia iluminista chegou no século XVIII em grande parte pelos brasileiros que foram estudar na Europa, notadamente em  Portugal, onde um dos centros desse movimento estava concentrado na Universidade de Coimbra.

Em Portugal essas ideias tomaram um caminho diferente de grande parte da Europa. 

Como o meio intelectual português poderia avançar, articular ideias modernas e inovadoras sem abrir mão das tradições da igreja católica?

Em 1772, a Coroa portuguesa empreendeu a reforma da Universidade de Coimbra, fundada em primeiro de março de 1290, com o objetivo de modernizar Portugal.

Nesse contexto estavam muitos brasileiros que ao voltarem para casa levaram os princípios iluministas na bagagem.

 Alimentados pela ideia de independência e liberdade, iniciaram movimentos para romper definitivamente com o domínio português em solo brasileiro.

Inconfidência Mineira,1789; Conjuração Fluminense,1794; Revolta dos Alfaiates,1798, na Bahia e a Revolução Pernambucana, 1817, foram alguns dos movimentos políticos fundados nas ideias iluministas que culminaram com a Independência do Brasil, que aconteceria mais cedo ou mais tarde, independente de Dom Pedro.

Se alguém teve um papel crucial nesse episódio foi Dona Leopoldina, uma das mulheres mais inteligentes da Corte. 

Uma mulher digna demais para o Imperador brasileiro.   

Depois de assinar o decreto de Independência, declarando o Brasil separado de Portugal, a Imperatriz mandou uma carta ao marido, onde escreveu, “O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece”.

O Iluminismo brasileiro tinha os mesmos propósitos dos intelectuais europeus.

Eram contra toda forma de opressão e desigualdade. 

Mas o Brasil da monarquia não parece tão distante assim. 

Machado de Assis, que foi cético quanto ao fim da escravidão, quando dizia que os negros não seriam de fato livres, dividia o Brasil em dois países: o real e o oficial. 

O Brasil Real – aquele de maioria pobre, explorada e sofrida – é bom, revela nossos melhores instintos.

O Brasil Oficial – aquele da classe média alta, da elite, da burguesia, da política – é caricato e burlesco.

A era da Luz ainda parece algo utópico na terra de Peri.

Gerald D

O gremista Gerald D escreve sobre artes, literatura, futebol e política com muita propriedade e consciência, o que reflete o seu gosto apurado pela boa leitura