CARTAS de Boston IV

Texto e conteúdo de primeira

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Roma dos romanos

IV

São vários caminhos, mas apenas um é garantia de prosperidade e  soberania. 

Não existe outra fórmula.

O povo, quanto mais culto, mais seguro, mais exigente e mais dono do seu próprio destino.

Não se alcança cidadania plena sem educação. 

Educação é um ato civilizatório. 

Sem educação não existe evolução. Não existe futuro.  

Uma criança fora da escola é uma geração perdida. 

Investir em educação não é despesa. É inteligência.

No Brasil o processo sempre foi contra a lógica.

Por um claro objetivo da classe abastada e politica: um povo, quanto mais ignorante, mais fácil de manipular.

Elite é o que há de melhor numa sociedade. Diz o dicionário: a fina flor, a nata. Minoria mais culta ou mais forte, dominante no grupo. Minoria composta por pessoas que se julgam superiores.

As elites da Europa e dos Estados Unidos são mais espertas, mais inteligentes e mais humanas. 

A convivência com uma democracia consolidada também ajuda. 

Não é o caso do Brasil. 

A pequena ponta da pirâmide brasileira é perversa, mesquinha, hipócrita e burra. Sente ojeriza de pobre. 

Se depender dessa pequena parcela, o Brasil continuará subdesenvolvido e o seu povo na mais absoluta pobreza.

A frustração dessa gente foi ter nascido no Brasil e não em Orlando ou Paris. 

São os perfeitos vira-latas, tão bem cunhado por Nelson Rodrigues.   

Existe um pensamento atribuído ao ex-aluno e ex-presidente da Universidade Harvard, Derek Bok, que diz: “se você acha que educação é cara, experimente a ignorância”.

Deveria ser obrigatório leituras em salas de aula e estudos de Filosofia e Sociologia em todos os níveis.   

Livros deveriam ser distribuídos de graça em escolas e universidades para alunos e instituições.

No meu conceito de sociedade ninguém deveria pagar por educação, saúde e transporte público. 

Que cada escola, mesmo aquelas mais afastadas dos grandes centros urbanos, tivessem bibliotecas e laboratórios equipados com o básico para estudos e pesquisas.

Exemplos de nações que investiram e investem em educação não faltam: China, Singapura, Macau, Estônia, Canadá, Finlândia, Irlanda, Coreia do Sul, Polônia e Suécia. Os dez primeiros do ranking mundial de educação.

Em 2018, a China investiu em Macau US$ 149,234 em educação. No mesmo período, o Brasil investiu US$ 37,954.

O resultado não poderia ser outro! 

Enquanto Macau, em dois anos de investimentos, é o terceiro do ranking mundial, o Brasil é um dos últimos colocados.

O imediato não existe. Um projeto de nação não é para quatro ou oito anos. É para quatrocentos, mil anos. É para sempre.

Esse deveria ser o pensamento de qualquer governante na construção social de uma nação.

Uma sociedade quanto mais culta, mais fácil de governar.

Diminuí o desemprego, intolerância, filas em hospitais, pobreza, misticismo, violência e presídios, como vem acontecendo na Holanda. 

E não menos importante, melhora o nível intelectual, moral e ético dos políticos e da política. 

A régua sobe. A exigência aumenta e todos ganham.

Dizem que é de Kawantsu, filosofo chinês do terceiro século, um pensamento que diz muito sobre o tema: “Se queres colher em um ano, deves plantar cereais. Se queres colher em uma década, deves plantar árvores, mas se queres colher uma vida inteira, deves educar e capacitar o ser humano”.

O estado de Massachusetts têm mais de 300 bibliotecas públicas. 

Uma biblioteca, não importa o tamanho, é um dos ambientes mais democráticos que existe!

No Brasil, cidades sobrevivem sem uma única biblioteca.

Educação nunca foi prioridade dos governos brasileiros em tempo algum.

Aconteceu um suspiro que durou pouco, quando foram criados inúmeros projetos, como a ampliação de campis e construção de universidades e escolas profissionalizantes. 

São 520 anos de negligência absoluta do estado com o povo brasileiro.  

A primeira instituição de ensino superior foi a escola de Cirurgia da Bahia, em 1808, primeiros anos do século XIX.

De 1.500, século XV, data da invasão portuguesa, até a primeira escola com curso superior, existe um vácuo de 308 anos.

A primeira da América do Sul foi a Universidade Nacional Maior de São Marcos, fundada em 12 de maio de 1551, em Lima, Peru.

As primeiras universidades de fato, com cursos variados, surgiram no Brasil  a partir do século XX.

Um estudo feito um pouco antes do atual governo, revelou que a maioria dos brasileiros não tem o hábito de ler.

74% nunca compraram um livro e 30% nunca leram uma obra sequer. 

A média nacional é de 2,43 livros por ano. E muitos pela metade. 

Os habitantes dos Estados Unidos, leem em média, 12 livros por ano. Um número que vem desde 2011. Os franceses, 20 livros por ano. 

Segundo o Centro Nacional do Livro, 88% da população da terra de Victor Hugo e Balzac, são leitores regulares. 

O Brasil é uma das dez maiores economias do planeta e um dos países mais desiguais.

Uma equação que nenhum europeu distante da realidade brasileira consegue entender. 

Segundo o Financial Times, nasce quase 4 milhões de bebês por ano no Brasil. Desse número, metade deles saberão ler antes dos 8 ou 9 anos. Quando chegarem aos 21, apenas 15% vão entrar na universidade.

70% das crianças do país frequentam escolas públicas. Com a baixa qualidade de ensino, aliado a diversos fatores sociais, apenas 7,3% dos alunos demonstram nível adequado de aprendizado de matemática e apenas 27% atingem nível esperado de leitura e escrita.

Dados do IBGE indicam, entre 2016 e 2017, que dois milhões de pessoas passaram a viver na extrema pobreza. Hoje no Brasil, mais de 70 milhões de pessoas vivem na pobreza. 

Nos últimos quatro anos, o ensino fundamental perdeu 767 mil alunos e o ensino médio, 667 mil alunos. A modalidade de Educação de Jovens Adultos (EJA) perdeu 3,2 milhões só em 2019.

A partir de 2016, o país perdeu quase um milhão de matrículas.

O sucateamento e desmonte da educação pública e a falta de investimentos tem como resultado um número cada vez menor de brasileiros nas escolas.  

O país precisa urgentemente de uma guinada radical. E não será com um governo obscurantista de extrema direita que vai conseguir reverter esse quadro vergonhoso.

O Brasil precisa mudar essa realidade e só existe um caminho: Educação.

Gerald D

O gremista Gerald D escreve sobre artes, literatura, futebol e política com muita propriedade e consciência, o que reflete o seu gosto apurado pela boa leitura