O diário Olé colocou como manchete em sua página na internet depois do jogo: Maracanazo argentino!
E o diabo que foi!
Todos os movimentos sociais – e o futebol é um deles – geralmente refletem o cotidiano em que estão inseridos.
Política e futebol se misturam sim!
Foi uma Copa América feita nas coxas e jogada em gramados de várzea com jogadores absolutamente comuns.
Foram partidas sonolentas e de baixa qualidade.
Uma Copa América com a cara do Brasil e organizada por duas das entidades mais corruptas do futebol mundial.
Exibida pelo SBT, um canal ligado ao governo, com o patrocínio da Havan.
Perfeito.
Foi uma jogada com objetivos claramente políticos.
Um cabo eleitoral e tanto para as próximas eleições.
A conquista da taça seria a vitória da barbárie sobre a civilização.
Mas deram com os burros n’água.
Uma seleção sem apelo popular.
Sumariamente ignorada pela grande maioria dos brasileiros.
Torcer por essa seleção é torcer pela política pública de um presidente omisso, incompetente e genocida.
É apoiar uma figura grotesca que não trabalha e que possuí como livro de cabeceira a biografia de um torturador.
Que vira para uma mulher – filha, esposa e mãe – e diz que ela não merece ser estuprada porque é feia.
Que compara negros a gado.
Que chama Pinochet e Stroessner de estadistas.
Que faz apologia ao nazismo e ao fascismo italiano.
Mussolini também andava de moto com apoiadores para mostrar sua virilidade. Deu no que deu.
Essa seleção brasileira representa a truculência, a estupidez, a homofobia, o atraso, o assédio sexual e o racismo na figura das camisas amarelas das passeatas pinceladas por loiras fajutas e descelebradas pedindo o fechamento do Congresso, do STF, a volta dos militares e do A-5.
Que chamam um delinquente moral e intelectual de mito.
Não. Eu não queria que a seleção ganhasse.
Ela representa o contrário de vida, liberdade e democracia.
Não que a seleção argentina me agrade.
São catimbeiros e se comportam em campo como se ainda jogassem futebol na década de 50.
A conquista da seleção representaria mais alguns passos para trás e nós já perdemos tempo e vidas demais.
Torcer por essa seleção mequetrefe do “professor” Tite em solo tupiniquim seria dar aval a uma competição no epicentro da pandemia na América do Sul que já levou mais de 530 mil brasileiros para a morte.
Uma seleção de homens covardes que sonegam o número 24.
Seria aceitar um presidente que jamais demonstrou o mínimo respeito pelas vitimas da Covid-19.
Que aparece diante das câmeras imitando uma pessoa em desespero com falta de ar rindo com seus asseclas desprovidos de inteligência e humanidade.
Que chama o coronavírus de frescura, de mimimi.
Sem empatia vomita: – vão chorar até quando?
Um presidente que não sabe nada de nada. Que não consegue articular meia dúzia de palavras com o mínimo de coerência.
Um péssimo militar que foi chamado pelo ex-presidente Ernesto Geisel de bunda suja.
Que é acusado de superfaturar notas de gasolina e de empregar fanstasmas em seu gabinete quando era deputado federal e integrava o baixo, baixo clero.
É dar de ombros para a nossa brutal desigualdade social.
É apoiar um governo onde o ministro da economia festeja a alta do dólar para acabar com a festa das empregadas domésticas na Disney.
Das ameaças aos governadores e prefeitos que combatiam a pandemia que ele sonegou o tempo todo.
Um governo de gente perversa e mesquinha, uma trupe de canalhas, capaz de negociatas na compra de vacinas incertas e superfaturadas.
Utilizam a mentira como plataforma de governo. Mentem descaradamente. Acusam sem provas. Jogam ao vento teorias conspiratórias.
Demonstram uma enorme dificuldade com a realidade.
Segundo um estudo da Universidade Federal de Pelotas, coordenada pelo epidemiologista e professor Pedro Hallal, se o Brasil tivesse feito o básico, nada excepcional, poderia ter salvo 400 mil brasileiros da morte.
Não. Definitivamente não. É algo que não podemos ignorar.
Não. Definitivamente não. Torcer por essa seleção é calar sobre esses corpos.
E minha consciência moral jamais permitiria.