Obra prima

Somos sim, um poema de Deus

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Imago Dei. Reprodução

Fui convidado certa vez para assistir uma exibição em um determinado museu. Fiquei impressionado pela maneira magistral com que o artista conseguiu não somente transmitir sua inspiração mas também dar vida a peças tão frias e duras. Vi no rosto de cada estátua, no por do sol de cada paisagem, nas águas serenas e calmas dos riachos, no furor das tempestades, no bramido das águas o rosto do artista. Porque ser artista não é apenas pensar, enxergar, criar e produzir. É também conseguir transmitir através do objeto, da arte, da criação parte de si mesmo. Cada arte carrega um pouco do artista. Cada quadro é quase um auto-retrato, não fisicamente, não de traços mas de espírito, do espírito do artista. 

É a alma do poeta, o coração do pintor, a essência do escultor que se estende e penetra na sua criação. Vemos isto de forma tão clara quando observamos um quadro de Da Vinci ou uma pintura de Renoir. Percebemos como sua história se misturou com a da arte e um absorveu um pouco do outro.

Parece não haver dificuldade de perceber isto, de aceitar o fato, de compreender esta verdade. Mas por outro lado temos tanta dificuldade de nos enxergar como portadores das características daquele que nos formou. Não estou falando de acharmos o nariz igualzinho ao do pai, os olhos da mãe ou até mesmo a relação física com um parente distante; estou falando das características do nosso verdadeiro criador, aquele que precede nossa paternidade humana.

Não estou falando de um quadro ou de uma estátua. Estou falando de você; sim, de você. Você é uma obra de arte! Assim como o artista, Deus o supremo criador pensou em cada detalhe seu, sonhou com você, colocou em você parte das suas características, e se alegrou tremendamente no dia em que viu cumprido, terminado o seu trabalho. Viu que era muito bom pois agora carregava em você a semelhança da obra de arte o Imago Dei. Tanto que Deus mesmo disse que somos um “poema” Dele.

Também me chamou muita atenção o fato do artista se alegrar sobremaneira quando alguém percebia o verdadeiro sentido da sua arte. Era um senso de realização, um sussurro quase que um desabafo que se traduzido em palavras se expressaria talvez em, puxa perceberam! Consegui!

Em meio a tudo isto fiquei pensando em Deus; que nos projetou, sonhou e criou, que comunicou a cada um de nós seus atributos. Que nos presenteou com bondade, com amor, com misericórdia e compaixão. Fiquei pensando em Deus como um artista e como será que ele tem reagido diante da expressão de suas obras de arte. À semelhança dos artistas, sua criação carrega partes dele mesmo. Como ele reage quando vê sua criação roubar, matar, odiar, pisotear o mais fraco, subjugar o pobre, agredir o irmão, perseguir o imigrante, abandonar os filhos, deixar a família. Como ele reage quando o que se vê de cada um de nós parece apontar para um criador que é antagônico ao Deus criador do céu e da terra.

Fiquei pensando e a única resposta que tive é que em cada momento destes deve haver no céu o que Max Lucado chamou “do silêncio de Deus”, e sabe o que mais, ao contrário do artista acima que em uma expressão de surpresa e realização disse “entenderam”. Deus deve em um sussurro de pai perguntar: “quando será que eles vão entender?”

Manoel Oliveira

Manoel Oliveira, D.Min, é pastor Presbiteriano ligado à P.C.A. Plantou e pastoreia desde 1999 a New Life Church em Framingham, Massachussets, USA. É casado com Ana Célia e pai de Sarah e Pedro. Conecte-se com o pastor Manoel Oliveira nas redes sociais: Facebook: fb.me/prmanoeloliveira Instagram: instagram.com/manoeloliveiranlc Youtube: youtube.com/c/prmanoeloliveira [...]