‘Meu pai testemunhou contra criminais’, diz filha de acusado de colaborar com o ICE

Por causa das mudanças na política de imigração, Renato Filippi teve sua remoção ordenada pelo ICE

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Desde que um canal de televisão em Manchester, New Hampshire afirmou em uma reportagem que o brasileiro Renato Filippi havia sido um colaborador do ICE, e que tem que ir embora dos Estados Unidos, a vida dele se transformou em um caos total, inclusive com ameaças de morte.

Alguns veículos e jornalistas da imprensa brasileira nos Estados Unidos, acompanharam o relato sem ouvir o que Renato tinha a dizer. Na tarde da segunda-feira, 16, Renata a filha de Filippi foi entrevistada a pedido dela no programa ‘A Hora da Notícia’, do jornalista Eduardo Oliveira, na Rede Abr.

Ainda na segunda-feira, o blog ouviu Renata com exclusividade sobre a versão da família sobre o ocorrido com seu pai, já que este optou por não falar com a imprensa. A seguir o depoimento de Renata.

“Em 2002 meu pai foi apreendido na fronteira no Texas e o México e foi transferido para uma cadeia da imigração onde oficiais intimaram-no a depor em juízo contra o coiote. Após a corte inicial, oficiais de imigração colocaram meu pai na mesma cela que esse coiote, que tentou matar meu pai. Alguns dias depois, oficiais levaram-no para uma sala e concordaram que a vida dele estaria em perigo caso ele fosse deportado para o Brasil. Então esses oficiais falaram que havia um jeito dele não ser deportado, desde que se tornasse um informante encoberto e que teria o direito de trabalhar e viver legalmente nos Estados Unidos ‘para sempre’”, diz Renata.

Durante 11 meses, Renato Filippi ficou preso junto com os coiotes mexicanos e poderia ser morto a qualquer momento caso eles descobrissem a verdade. Muitos meses se passaram e Renato não teve direito a advogado. Ele estava sozinho e sem ajuda, e por isso aceitou ajudar o ICE, segundo a versão da filha de Filippi.

Todas as informações que Renato conseguiu sobre coiotes da América Latina, incluindo os que estavam trazendo gente do Middle East – iraquianos, iranianos e afegãos, entre outras nacionalidades para os Estados Unidos através da fronteira do México. Essas pessoas poderiam ser possíveis terroristas.

“Nunca, jamais em hipótese alguma essas informações incluiram brasileiros imigrantes da nossa comunidade. O ICE queria prender as organizações criminosas de tráfico humano. Por causa do serviço do meu pai, coiotes do Brasil começaram a ameaçar eu e minha mãe, e por essa razão abandonamos o Brasil e viemos para os Estados Unidos”, continua Renata.

Renato Filippi está nos Estados Unidos há 15 anos, e tem muitas provas de sua contribuição para o ICE e essas provas que são ‘classificadas’ estão em segredo de justiça. Uma vez que o caso seja julgado, todos terão acesso aos nomes dos criminais presos.

Periodicamente – entre um e três anos, conforme era pré-determinado, Renato Fillipi tinha que fazer check in no ICE em Manchester, e por causa das mudanças na política de imigração do atual governo, o brasileiro foi considerado como prioritário para deportação. Na última vez em 5 de setembro, Renato foi informado que tem que comprar uma passagem e deixar os Estados Unidos no dia 6 de novembro.

“Os advogados estão trabalhando para que essa deportação não aconteça, uma vez que a vida dele está ameaçada no Brasil. Minha mãe e eu recebemos documentos americanos através de um processo diferente e não relacionado ao meu pai. Pessoas na situação dele não tem direito ao green card, mas ele qualificou para asilo político em duas entrevistas, e os advogados estão considerando reabrir o caso dele na corte federal, uma vez que ele está recebendo ameaças de morte de brasileiros que não conhecem a história e estão tirando conclusões precipitadas e não provenientes”, afirma Renata.

A reportagem do canal americano provocou uma reação hostil de brasileiros nas redes sociais. “Estamos observando várias postagens incitando o ódio e violência contra meu pai. Os advogados estão em contato com o Departamento de Justiça para investigar as ameaças de morte recebidas e ameaças veladas proferidas por membros da comunidade. É muito triste constatar que a comunidade nem sequer se dá ao trabalho de ler as notícias, e já saem comentando, compartilhando e ameaçando. Na verdade meu pai NUNCA informou o ICE sobre imigrantes. Uma vez que ele foi concluiu seu trabalho no Texas, ele foi solto em liberdade com uma work authorization e social security e começou uma vida nova em New Hampshire. Ele é honesto e trabalhador, assim como a maioria dos nossos imigrantes”, de acordo com a filha de Renato.

“Ele está confiante em Deus, nos seus advogados, e na lei, tem todas as provas necessárias para levar para corte, e uma vez que isso tudo seja resolvido revelará essas informações e provará a todos que ele jamais se voltou contra imigrantes iguais a ele. Eu e minha família sempre fomos solidários aos imigrantes, e recentemente nos mudamos para Nashua. Nosso círculo é muito pequeno, e sempre vivemos uma vida honesta, quieta e simples. Não é justo acusar alguém que foi usado pelo ICE 15 anos atrás. Apenas gostaria que os meios de comunicação postassem fatos reais e que as pessoas fossem mais humanas”, finaliza.

Imagem: reprodução reportagem WMUR

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros

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