Um dos mais devastadores vícios que podem atingir o ser humano é a bebida. Aqui mesmo na comunidade brasileira nos EUA há alcoólatras de ambos os sexos e os motivos são muitos. Solidão, isolamento, frustração, decepção ou simplesmente falta de vontade de parar de beber são alguns dos motivos que tornam a pessoa um alcoólatra.
Depoimentos
“Comecei a beber com 16 anos e no começo achava bonito pois me sentia parte de um grupo de pessoas mais velhas, entre eles um professor do colegial. Comecei bebendo cerveja, depois tomava cachaça, vodka, whisky e por fim misturava tudo. Começava a beber na sexta a noite e bebia até o domingo. Um dia em Valadares me envolvi numa confusão e levei uma cadeirada na cabeça que deixou em coma no hospital por quase um mês. Até hoje não sei quem me bateu e por causa deste incidente fiquei uns dois anos sem beber. Me casei com uma cidadã americana e viemos para a América no fim de 2000; após quatro anos de casamento nos separamos por iniciativa dela e comecei a beber de novo. Foram cinco anos bebendo sem parar e no começo de 2009 tomei a decisão de não beber mais. Queria minha vida de volta e após três anos me sinto numa guerra onde as batalhas são vencidas dia a dia. Comecei a freqüentar o Grupo Princesa do Vale em Somerville fundado pelo José Gomes e posso dizer com muito orgulho que a fase da bebida vai ficando para trás a cada dia, embora seja uma batalha como eu disse. Minha mãe veio me visitar no começo do ano e quando viu que eu estava sóbrio, ajoelhou e rezou agradecendo a Deus”, diz João Carlos – o nome foi trocado a pedido, que conheceu o Alcoólicos Anônimos através de um amigo que era alcoólatra e estava freqüentando as reuniões.
Juliano Barbosa tem 50 anos e bebeu desde os 13 anos, já que na sua família os homens começavam a beber cedo e alguns deles se orgulham disto. Juliano foi chefe de cozinha de grandes restaurantes em Miami, New York, Los Angeles e Boston e perdeu todos os empregos por causa da bebida. “Vim para os Estados Unidos com documentos, pois um dos diretores de um restaurante em Miami me conhecia desde os tempos do Rio de Janeiro e quando me fez a proposta aceitei de imediato, mas fiz a ressalva de que só viria para cá se eles conseguissem o visto para mim. Esperei uns meses e quando tudo estava em ordem embarquei. Quando me dei conta de onde estava e o que significava tudo aqui, me contive na questão da bebida e por quatro anos não bebia todos os dias. Depois disto comecei a beber diariamente. Fui mandado embora e vaguei por diversos lugares sempre perdendo as oportunidades que surgiam por causa da bebida. Cheguei a ficar dias inteiros trancado dentro de casa e por causa disto perdi tudo. Mulher, filhos, amigos, trabalhos, dignidade e fui me afundando cada vez mais. Quem ficou sempre do meu lado foi minha irmã que sempre me alertou para os perigos e os males da bebida. Há onze anos, sem lugar para ficar vim para a casa dela em Allston e meu cunhado sempre diz que se livrou da bebida ao começar a frequentar os Alcóolicos Anônimos lá em Belo Horizonte, mas eu nunca quis saber disto e sempre o considerei um fraco, quando na realidade o fraco era eu. Minha irmã me aconselhava a procurar ajuda aqui, mas nunca quis saber disto, até que fui visitar um pessoal que conheço em Martha’s Vineyard e na volta bati o carro numa árvore e fui preso e encaminhando para a corte. O juiz foi condescendente comigo, pois embora tenha bebido por tanto tempo, nunca me envolvi em qualquer acidente ou fui detido por causa disto. Na volta da audiência sentei-me no banco de trás do carro do meu cunhado e vi lá o jornal A Notícia que trazia uma reportagem sobre os Alcóolicos Anônimos e vi aquilo como sendo um aviso divino de que era a oportunidade que eu precisava para deixar a bebida de uma vez por todas. Se havia funcionado com a pessoa que estava na reportagem, por que não ia funcionar comigo? No mesmo dia fui me informar e desde então nunca mais coloquei uma gota de bebida na boca e voltei a trabalhar no que sei fazer e caminho cada vez mais para me recuperar totalmente e retomei o contato com meus filhos e lá nos Alcóolicos Anônimos ouvi muitas histórias de superação e vitória. Para mim, cada dia é um desafio que tenho que superar e vou conseguir seguir adiante”, conta Juliano Barbosa que pediu que seu nome fosse omitido.
Josmar Falcão conta a sua história sem qualquer constrangimento, na intenção de que outros que ouçam ou leiam seu relato possa se livrar da bebida como ele fez no passado. “Hoje vejo o tempo que perdi com a bebida e aonde cheguei até que tomasse a decisão de deixar de beber”, conta este baiano de Itabuna que mora nos Estados Unidos há mais de dez anos.
Falcão diz que um dia quando morava no Estado de New York estava bebendo na sua casa e resolveu sair de carro e não se deu conta de que havia um policial o vigiando. Pouco depois foi parado e concordou em fazer o teste do bafometro que acusou o teor alcóolico que tinha, foi preso e teve que fazer trabalho comunitário e conheceu os Alcóolicos Anônimos e decidiu mudar a sua vida definitivamente. Josmar diz ainda que a coisa mais difícil para quem bebe que é um alcoólatra. “É a segunda derrota, pois a primeira é beber, coisa que poucos sabem fazer”, diz. Lembra também o que dizia José Gomes que foi o fundador do AA para brasileiros na região de Boston, “Para saber se a pessoa é alcoólatra é fácil segundo José Gomes. Quando a pessoa tem sede bebe um copo ou dois de água, de suco ou de refrigerante e já está bom, já quando se é um bêbado não se tem medida. Quando o assunto é a bebida tudo é diferente, pois quanto mais a pessoa bebe, mais quer beber. Até que acabe bêbado como da última vez”.
Foi pensando em pessoas como João Carlos, Juliano e Josmar que Angela Sena, muito envolvida em trabalhos comunitários resolveu fundar o Grupo Vida Nova em Framingham há pouco mais de dois anos. “De tanto ver a necessidade e a carência das pessoas que enveredam pelos caminhos da bebida e por ter na família casos de alcoólatras é que decidi arregaçar as mangas e fundar o Grupo Vida Nova. É maravilhoso poder ajudar pessoas, ganhar a confiança deles, seguir passo a passo e poder ver depois de um tempo o quanto progrediram”, diz Angela que é a coordenadora do Grupo Vida Nova.
Prestação de serviço
Framingham, MA
Alcoólicos Anônimos – AA
Grupo Vida Nova
Reuniões – quartas-feiras 7 PM
24 Union Ave, suíte 10
Angela Sena – Coordenadora
774.573-8298
Alcoólicos Anônimos
Cambridge e Somerville, MA
Grupo Esperança e Grupo Princesa do Vale
400 Cambridge Street esquina com Cardinal Medeiros
Reuniões
Domingos – 3 PM
MAPS Somerville
92 Union Square
Somerville, MA
José Carlos Barros – Coordenador
617.520-0949
Marcio Souza – Coordenador
781.844-2253
Reuniões
Sábados – 5 PM
617.520-0949
Grupo Brasil NY
122 East 37 – entre Park Ave x Lexington Ave, sala do fundo, entrada por baixo da escada
Reuniões
Quartas-feiras e sextas-feiras 8 PM
Domingos – 1 PM