Em novembro de 2011, o jornal METROPOLITAN NEWS publicou uma pequena série de quatro reportagens sobre violência doméstica, que são republicadas com a finalidade ajudar pessoas que sofrem com o problema. Nesta segunda reportagem, há o depoimento de Rodolfo Cesar cujo nome trocado a pedido que conta a história de violência que passou nas mãos de um companheiro
‘Me envolvi com o cara errado’
“As pessoas não acreditam que haja qualquer tipo de violência, inclusive doméstica num relacionamento homossexual, mas há e muita e sou uma prova viva disto. Sou o caçula de uma família muito conservadora de Belo Horizonte e meu pai e meus dois irmãos homens jamais aceitaram a minha homossexualidade. Eu era humilhado por eles e pelos meus tios o tempo todo e em 1997 quando surgiu a oportunidade de vir estudar nos EUA dei graças a Deus pois era a chance que eu sempre queria para me livrar deles. Depois de concluir o meu curso na Califórnia fui convidado para trabalhar numa grande empresa em New York e topei na hora, pois ia trabalhar com moda e de quebra poderia viajar bastante que sempre foi o meu projeto de vida. Depois que minha mãe morreu em 2001 nunca mais voltei ao Brasil e nem vi meu pai e meu contato é com minhas duas irmãs e sobrinhos. Em 2004 numa festa em Key Biscaine na Florida conheci o Charles, um americano filho de pais colombianos. Logo começamos a namorar e em janeiro de 2005 estávamos morando juntos e dias depois começaram a ameaças e a violência contra mim. Uma vez no lançamento da coleção de inverno da empresa que trabalho onde estavam todos os diretores da companhia, inclusive os da Europa, o Charles chegou visivelmente alterado e só então me dei conta de que ele estava drogado e na frente de todo mundo me deu um soco na boca. Aquilo me marcou bastante, pois eu era um dos estilistas que assinavam as peças e senti que todos ficaram chocados com aquela cena. Ainda assim não me dei conta de que continuava sofrendo as mesmas humilhações que meu pai, meus irmãos e tios faziam comigo o tempo todo. No dia seguinte tomei de uma só vez as pílulas que meu médico me receitou e fui parar no hospital. O Charles foi me visitar, pediu perdão e disse que estava arrependido e decidi dar a ele mais uma chance. Foi o meu erro. Quando voltei para casa tive um choque ao descobrir que ele havia feito uma limpa no meu apartamento. Levou tudo o que podia levar. De computador a roupas, de sapatos a perfumes, de talões de cheques a cartões de crédito e nem sei até hoje quanto foi o meu prejuízo. Um mês depois soube que ele estava preso por tentar assaltar uma loja de conveniência em New Jersey e por causa disto ficou preso quase um ano. Quando saiu me procurou novamente e pediu para ficar na minha casa pois não tinha para onde ir. Os dias foram passando e ficamos juntos mais uma vez e não demorou para que ele mostrasse as garras novamente. Eu estava de viagem marcada para Paris e na noite anterior discutimos por causa de uma pizza e fui agredido com tamanha violência que tive que ser internado. Quebrei um braço, o maxilar, além de diversas escoriações pelo corpo e depois de uma semana voltei para casa. Como Charles estava em liberdade condicional, foi preso novamente e saiu da cadeia no ano passado. Ele me procurou, mas depois da última agressão resolvi buscar ajuda e fiz análise durante um tempo para me curar das feridas emocionais causadas por anos de abuso de todos os tipos. Hoje, tenho um relacionamento sadio com outra pessoa e sou voluntário numa ONG que ajuda vítimas de violência doméstica que tal como eu saíram de relacionamentos conturbados e abusivos e são tantos que nem dá para enumerar todos e o que posso dizer é que me envolvi com um barra pesada do qual foi difícil me livrar, mas eu consegui!”, declarou.
