Imigração: ‘Falta de documentos não é desculpa para errar’

0
903
Quem tiver audiências ou agendamentos neste período deve se comunicar com seus advogados

Neste depoimento sobre imigração da série feita especialmente para o Jornal dos Sports em 2013, histórias emocionantes foram contadas. O depoimento de Amauri Dias – que teve seu nome omitido a pedido mostrou que a honestidade e a vida de retidão fizeram com que seguisse os conselhos da mãe, precocemente falecida de que deveria manter-se longe dos problemas.

Quando minha mãe morreu, meu pai resolveu tirar uma licença de seis meses e viemos passar este período na casa de uns parentes em New Hampshire para que pudéssemos nos recuperar do trauma da morte dela. Só que nos adaptamos tão bem aqui que meu pai resolveu que tínhamos que ficar de vez e assim nos estabelecemos e reconstruímos nossas vidas. Mesmo com meu pai trabalhando e lutando para que nada nos faltasse eu e minha irmã sentíamos a falta da nossa mãe e quando meu pai resolveu se casar dois anos depois nós não queríamos que ele se casasse, mas mesmo assim ele o fez e a esposa dele nos tratava bem e acabamos nos entendendo. Como ela é cidadã americana, logo meu pai conseguiu o Green card e com um cunhado dele compraram um caminhão e se revezavam numa rota que ia de Massachusetts ao Canadá e Illinois e tempos depois compraram outro caminhão. Só que eu não pude naquela época ter direito a me legalizar porque estava fora do limite de idade e só minha irmã é que se beneficiou, mas mesmo assim não desanimei e era um dos melhores alunos da escola e em todas as turmas onde passei. Em 2000, eu consegui que o meu patrão assinasse para mim e apliquei na lei do Clinton – 245i – e me dediquei aos estudos e consegui uma bolsa de estudos integral e fui adiante até que me formei e depois fiz mestrado e doutorado que não conclui ainda porque fui morar na Austrália num projeto missionário da igreja da minha mulher que envolve agricultura que é a minha área de atuação. Eu nunca desanimei quando não tinha os meus documentos e sempre mantive a esperança de que um dia as coisas iriam melhorar, mesmo que tivesse que esperar algum tempo. Lembro que quando apliquei para me legalizar não tinha dinheiro e não queria depender do meu pai e nem da esposa dele. Arrumei um outro trabalho a noite e no fim de semana trabalhava com o que aparecia e foi assim que juntei tostão por tostão para pagar o meu processo e conseguir o meu documento. Nunca tive dúvidas que iria vencer, e outra coisa que sempre fiz foi ficar longe de confusão e jamais me misturei com gente problemática pois minha mãe dizia que para se dar bem na vida tem que ser honesto, trabalhador e ter fé em Deus e foi o que eu fiz a vida inteira. Hoje meu pai e o cunhado dele são donos de diversos caminhões e já não dirigem mais nas estradas e se dedicam a outros negócios. No fim do ano passado eu dei uma palestra para jovens filhos de imigrantes e contei para eles a minha história e de como me mantive longe de qualquer confusão e depois no fim, alguns deles vieram falar comigo sobre isto. Lamentei quando me disseram que se envolveram em problemas porque estavam revoltados por não ter documentos, mas isto não é desculpa para nada já que não ser legalizado não deve servir de muletas para ninguém. Resolvi acompanhar de perto três deles e nos falamos todas as semanas e vejo que mudaram de atitude”.
Amauri Dias, que veio para os Estados Unidos em 1998, reside atualmente na Virginia depois de morar em Massachusetts e se dedica a projetos sustentáveis.

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros