O preço do Voltaren

0
1207

Da série os 10 textos mais acessados do blog. Escrevi este texto tempos atrás e ele mexeu com muita gente. Busco mostrar o quanto o imigrante é explorado em todos os sentidos. Uma pena que seja assim.
– Tem Voltaren?
– Tem
– Quanto custa?
– US$ 35,40
– Quanto?
– US$ 35,40
– Tem certeza de que o preço é este mesmo?
– Tenho sim, é US$ 35,40
– Obrigado
Dias atrás o meu nervo ciático deu de novo o ar da graça e tentando evitar ir ao médico, onde gastaria em torno de uns US$ 300/400, apelei para o remédio que certa vez combateu a inflamação momentânea.
Fui numa das muitas lojas brasileiras e pedi pelo Voltaren, um antiinflamatório e tomei um susto, quando a balconista me disse o preço. Virei as costas e fui embora, em busca de outra solução. Fiquei indignado, pois como muitos que aqui estão, sei fazer contas o suficiente para saber que pagar US$ 35,40 pelo remédio era um abuso para com o meu dinheiro, além é claro de ser desrespeitoso.
Uma rápida pesquisa no Google, e pronto, eu tinha sim razão ao deixar sobre o balcão a cartela do remédio que nem caixa tinha. Os preços no Brasil variam numa média ponderada em torno de R$ 16,38; sei disto pois telefonei para algumas drogarias e farmácias no Brasil.
Dividindo os R$ 16,38 pelo dólar estimado em R$ 2,70, teremos o valor de US$ 5,06. Considerando que quem traz o remédio o venda por US$ 10,12 – ganhando 100% em cima do valor original, e o comerciante aplique ainda mais 100%, teremos o preço final de US$ 20,24, o que seria um valor razoável, visto sabermos todos a forma com que estes medicamentos entram aqui. Não quero e não vou colocar preço ou margem de lucro nas mercadorias vendidas, mas não é um absurdo que se cobre sete vezes mais que o preço original?
Esta atitude de se cobrar – muito caro – por produtos brasileiros, não é novidade. Anos atrás, um lojista brasileiro – que já voltou para o Brasil – comprou uma carga total de ovos de páscoa e disse para quem quisesse ouvir que iria ganhar muito dinheiro com a venda na páscoa. Se o chocolate não fosse doce, poderia dizer que o preço era salgado ou amargo. Salgado e amargo demais, pois só o dito cujo tinha o produto.
Como ninguém é bobo e o preço era exorbitante, a demanda foi mínima, e o no verão o que se via na loja eram ovos de chocolate derretendo, e com eles a pretensão de lucro fácil.
Que o comerciante tenha lucro, é aceitável, pois ele se estabelece para isto, mas o lucro desmedido cheira ganância pura. Hoje, nos Estados Unidos é possível comprar produtos brasileiros em qualquer esquina, e até as grandes redes de supermercado já deram conta que os consumidores tupiniquins são muitos aqui. Os nossos produtos deixaram de ser primazia das lojas e estabelecimentos brasileiros, para ganhar as prateleiras dos americanos.
É possível encontrar até panetone. E por falar em panetone, o Bauducco, que é o melhor deles, custa no Brasil em torno de R$ 8 – algo próximo de US$ 2,60 e é vendido por US$ 5 em média. O preço de R$ 8 é no varejo, e se levarmos em conta de que o importador compra direto do fabricante, este preço vai cair pela metade, logo, os US$ 5 cobrados é razoável e aceitável.
Para quem gosta e usa as legítimas sandálias Havaianas, o preço no Brasil é algo por volta dos R$ 10 – US$ 3,70, e outro dia eu comprei um par por meros US$ 4. A lista de comparações é enorme, e a cada uma delas, pode se ver o absurdo que é o preço do remédio.
Logicamente, não se pode comparar panetone Bauducco e sandálias Havaianas com o Voltaren, pois os objetivos, finalidades e necessidades são totalmente diferentes, mas mesmo assim o Voltaren é caro, muito caro…
Em tempo: não recomendo a ninguém a auto-medicação, e muito menos, que deixem de comprar os seus remédios, onde bem entenderem. A inflamação do nervo ciático? Passou, graças a Deus. Nada que um bom e eficiente Ibuprofen, de US$ 3,99 comprado na farmácia da esquina não resolvesse.

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros