Imigracão: ‘A beira da rodovia sentei e chorei’

A lição é jamais desistir dos seus sonhos, pois outras pessoas antes, os realizaram

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Neste depoimento sobre imigração da série feita especialmente para o Jornal dos Sports em 2013, histórias emocionantes foram contadas. O depoimento de Valdir – que teve seu nome omitido a pedido foi um dos mais tocantes a ponto dele se emocionar de novo ao contar a sua história e sua decisão de ficar e esperar por uma reforma de imigração.

‘A beira da rodovia sentei e chorei’
Desembarquei nos Estados Unidos na primavera de 1999 e por estar alheio ao que se passava perdi a chance de me legalizar na Lei 245i que foi assinada pelo presidente Clinton. Sai de Goiânia deixando minha mulher e dois filhos pequenos que vieram dois anos depois com muito sacrifício e economias que juntei durante àquele período. Todos sabem como é difícil a vida na América nos primeiros tempos pois a gente passa privações, necessidades, sofre com a saudade, com a indiferença das pessoas e com os oportunistas que querem tirar vantagem de quem acaba de chegar. Comigo foi assim, pois paguei US$ 2,5 mil num carro que não valia US$ 600 e quando descobri que tinha sido enganado a pessoa de quem comprei o carro disse na minha cara que eu era um bobo. Anos depois encontrei com esta pessoa e deu pena de ver a situação dele, pois foi acometido de um câncer e quando me reconheceu pediu perdão pelo que havia feito comigo lá atrás. Sempre tive em mente que não devia me meter em problemas e quando venceu a carteira que havia tirado em outro estado deixei de dirigir no dia a dia e como sempre morei perto do trabalho aproveitei para economizar tudo o que podia. Minha mulher trabalha numa casa há oito anos, fomos juntando dinheiro e construindo um bom patrimônio no Brasil, tudo no nosso nome com escritura e graças a Deus, meu irmão que administra os nossos bens é idôneo e honesto. Um dia lá no restaurante que trabalho o manager me perguntou por que não invisto aqui nos Estados Unidos. Disse a ele que gostaria, mas não há segurança alguma, pois já que somos indocumentados podemos ter que ir embora de uma hora para outra. Meus filhos se adaptaram muito bem aqui e posso dizer que eles são americanos. O meu filho mais velho sempre foi o melhor aluno da turma e graças a Deus os dois se beneficiaram da lei que o presidente Obama concedeu no ano passado e vão para a universidade estudar. Mas voltando ao carro que comprei quando cheguei, um dia precisei ir numa cidade distante de onde moro e o veículo quebrou numa das rodovias que existem em Massachusetts. Naquele dia entrei em desespero pois temia ser preso pois a carteira era de outro estado. Senti-me um traste de pessoa. Sou formado em contabilidade no Brasil e na época era dishwasher no restaurante ganhando pouco e estava ali no meio do nada, com o dia terminando sem falar inglês direito totalmente a mercê do que podia me acontecer e só me restou sentar e chorar ao lado do carro quebrado e estava tão passado que nem vi que um carro da polícia parou atrás de mim. Quando o oficial me viu chorando perguntou o que estava sentindo e consegui com meu parco inglês que falava na época dizer da minha frustração e tristeza. Ele logo percebeu a minha situação, me acalmou e tratou de arrumar socorro para mim. Sai dali com a decisão de que iria esperar o tempo que fosse por uma lei de imigração, que iria fazer daqui o meu lugar e que um dia teria orgulho de ter os meus documentos legais com minha família. Como todo mundo estou na expectativa que o presidente Obama assine uma lei de verdade que honre todas as lágrimas que eu e uma multidão um dia choramos a beira de uma estrada qualquer”.
Depoimento de Valdir, goiano de Itumbiara que chegou nos EUA em 1999.

Atualização 1: o filho mais velho de Valdir casou-se com uma cidadã americana, ingressou nas forças armadas e aplicou para a residência permanente dos pais.

Atualização 2: Valdir é voluntário em uma entidade que ajuda a cuidar de veteranos e dedica-se a cuidar junto com sua esposa de idosos inválidos. “É uma forma de devolver a este país um pouco do que eu e minha família recebemos. Outro dia passei pelo lugar onde havia me sentado anos atrás na beira da rodovia e agradeci a Deus por tudo o que Ele me concedeu. Tive o prazer de encontrar o trooper que me tratou com dignidade e dei um abraço nele. Jamais vou esquece-lo”, disse.

Imagem meramente ilustrativa. Foto de compartilhamento: Jehozadak Pereira/MundoYes.com

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros

2 COMMENTS

  1. Meu amigo que historia, parado num Posto de gasolina vi seu post e Nao consegui deixar pra depoes. Tive que ler. Para mim chegado Por aqui Em 1999 com muitos Sonhos e vontade de me tornar um Cidadao americano. Humildemente Te falo Nao ha como conter tambem as lagrimas de frustracao , pois perdi semelhante oportunidade Por Andar na ocasiao com Pessoas mal informadas . Mas hoje Em Dia com toda expectativa Em um futuro breve porem confiante e entregue ao que Deus nos prove! Abraco a todos

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