Não precisamos nos distanciar do nosso lugar de convivência para ter esta percepção. Não é mais necessário viajar para países em desenvolvimento ou, olhar apenas para a história de povos longínquos. As contradições nos rodeiam. As incoerências existenciais se amontoam. Não conhecem mais limites e não são parte de um segmento social isolado, e nem mesmo de uma área da vida. Aliás, temo em dizer, elas têm se tornado a própria vida. Classes sociais elitizadas cercadas de pompa e de um estilo de vida que ainda só é realidade para menos de três porcento da população mundial.
Enquanto a esmagadora maioria desta massa humana vive em condições precárias. Contradições! Mas o que dizer da política, que amplia estas contradições ao tornar os defensores em opressores, com sistemas arbitrários e saturado de agendas pessoais. Onde a luta pela democracia e o desejo de um governo do povo, para o povo e através do povo é reprimido com a morte. Onde ditadores mantém suas bases protegidas pela força, intimidação e destruição.
Onde mulheres ainda são mutiladas para não sentirem prazer, não tem direito a expressão e nem voz para dar vazão a dor do seus corações. Onde a economia promove o enriquecimento do rico e rouba o sonho de sobrevivência digna do pobre. Onde os impostos mais altos são reservados para a classe que ganha menos e as isenções e privilégios oferecidos aos mais abastados.
Onde guerras são travadas para criar a paz, mas deixam um rastro de morte, separação, ódio e calamidade; enquanto os vencedores trombeteiam que trouxeram a paz. Cruzadas modernas, comportamento medieval. Contradições! Quando a religião deveria se posicionar do lado do certo, do justo, do limpo e do honesto; levantar sua voz profética e condenar o erro, limpar suas eiras e abrir caminho para a justiça como ensina a palavra de Deus em Amós; “Vocês estão transformando o direito em amargura e atirando a justiça ao chão…” “Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!” Contradições quando fazemos o contrário; premiamos o vulgar e enchemos os auditórios dos manipuladores. Aplaudimos o crescimento da desonestidade e avalizamos as posturas inescrupulosas. Contradições! Mas são tantas e tamanhas e em tantas áreas, que nos sentimos sufocados.
Falta ar, o ar da vida. Falta luz, a luz que norteia, que dá sentido, que desafia, que chama à responsabilidade. Falta amor; por Deus, por quem sofre, pelo indefeso. Falta coragem para denunciar, para ensinar o certo, para contradizer e se posicionar. Falta graça; para agir com delicadeza, para dar com alegria, para se oferecer como sacrifício. Falta misericórdia; para sentir a dor do outro, para se ver parte, para se oferecer como abrigo, ajuda, força e ânimo.
Contradições! Não foi por menos que Cristo, talvez cercado pela mesma realidade, tenha ensinado seus discípulos “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo eu venci o mundo”. E se ele venceu, nós podemos também vencer; “Pois tudo podemos naquele que nos fortalece”. Mesmo no meio de tantas contradições.
