Passada a eleição, é hora de fazer as pazes. Ou não…

Diante de determinadas situações o silêncio é o melhor caminho

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Seja compreensivo. Perdoe e peça desculpas se ofendeu alguém por causa da política

A eleição presidencial brasileira de 2022 foi uma das piores coisas que podia ter acontecido em termos sociais, morais, políticos e até mesmo no plano espiritual. Não ficou pedra sobre pedra e muitos relacionamentos de amizades, familiares e de negócios foram abalados, alguns de forma e modo definitivos.

Em muitas comunidades religiosas brasileiras nos Estados Unidos, a pregação do Evangelho foi deixada de lado e prevaleceu as opiniões políticas, sempre com as tintas carregadas para o perigo do ‘comunismo’ e da esquerda. As coisas foram tão sérias que até grupos de oração e discipulado foram contaminados pelas opiniões políticas e pelas mensagens virulentas nos grupos de WhatsApp e Telegram, o que provocou o acirramento das opiniões. Sem contar as publicações nas redes sociais.

A história a seguir já foi contada neste espaço em 2018, e atualizada recentemente, mas ilustra o que aconteceu em milhares de famílias e outros círculos sociais neste ano.

Denise DaSilva é de Contagem, Minas Gerais e mora em Massachusetts desde 1995 quando veio estudar inglês e nunca mais voltou para o Brasil. “Só a passeio”, diz. Três anos depois chegaram os irmãos Raphael e Cíntia, que eram seus vizinhos, amigos e que ao perderem a mãe, foram informalmente adotados pela família dela. “Como temos basicamente a mesma idade, nos tornamos inseparáveis e tal como eu, eles constituíram suas famílias aqui nos Estados Unidos e também só vão ao Brasil a passeio”.

O primeiro estremecimento de Denise e Raphael aconteceu em 2016, na época da eleição presidencial. “Desde a primeira hora, o Raphael disse que ia votar no Donald Trump e não abriu mão disto. Sempre respeitei a opinião de todos em questão de política, mesmo porque meu pai era envolvido e convivi com políticos o tempo todo. Pela nossa casa passaram Tancredo Neves, Hélio Garcia, Newton Cardoso, Aureliano Chaves, Francelino Pereira e muitos outros políticos fossem de direita, conservadores e de esquerda. Papai recebia a todos sem excessão e não raro se encontravam na nossa casa políticos de correntes diferentes. Em 2016, o Raphael se estranhou comigo, por causa do Trump, mas logo passou”, diz Denise.

Meses atrás, Denise pediu a Raphael que não lhe enviasse mais mensagens e nada que se referisse ao candidato Jair Bolsonaro por qualquer forma de contato. “Eram tantas mensagens de WhatsApp e no Facebook que eu não dava conta. Ele ficou furioso comigo, me xingou, disse que eu não era uma pessoa democrática e que eu estava errada. O detalhe é que eu não tenho nem o título de eleitor brasileiro e sequer tive candidato. Meu pedido foi de que ele parasse de me enviar mensagens. Não é preciso dizer que ficou uma situação horrível, já que eu sou madrinha da filha mais velha dele e ele é padrinho do meu caçula, além de ter alguns negócios juntos com a mulher dele que é minha amiga. Pela primeira vez em muitos anos, estivemos rompidos e ele me excluiu de todas as redes sociais e me bloqueou onde podia bloquear. Senti muito tudo isto, fiquei angustiada e me perguntei quando ia acabar esta situação”, afirma.

“Faço aniversário no dia 25 de outubro e logo cedo bateram na minha porta e lá estava o Raphael, com um bolo, flores e um presente para mim. Ele veio, pediu perdão e nos abraçamos colocando fim a uma situação provocada pela política. Estamos em paz, pelo menos até a próxima eleição. Espero…”, conclui.

Procurada, Denise contou que em 2022, tudo foi diferente, pois ela se afastou por outros motivos de Raphael e Cíntia, mas eventualmente sempre se falam e não há nenhum ressentimento entre eles. “O problema foi com meu irmão que mora na Flórida, que se radicalizou e não respeitou ninguém que pensa diferente dele. Simplesmente cortei toda a forma de contato e o bloqueei nas redes sociais e o telefone dele e ignorei tudo o que partia dele. Até minha ex-cunhada não suportou o que ele fez e eles que sempre tiveram um bom convívio depois da separação, principalmente por causa dos filhos, está sem falar com ele há meses. Mas vai passar se Deus quiser”, diz Denise.

– Não deixe que a política estrague suas amizades e relacionamentos
– Respeite a outra pessoa, pois nem todos pensam do mesmo modo
– Se não aceitam seus argumentos, afaste-se e não discuta
– Não ofenda ninguém nas redes sociais, principalmente quem você não conheçe
– Seja compreensivo para com quem não tem a mesma preferência política que você
– Se ofendeu alguém, peça desculpas. Se foi ofendido, desculpe e perdoe…
– Lembre-se que a política, ou os políticos têm mandatos que se acabam
– A amizade, o respeito e a consideração estão acima de tudo
– Não revide e nem responda a qualquer provocação
– Do outro lado há seres humanos
– O tempo é o senhor da razão. Ou da insensatez…

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros