Fim de medida anti-imigrante provoca caos na fronteira com o México

Antes acolhedor, os Estados Unidos tem um sistema imigratório quebrado e falido

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Grupo de imigrantes detidos em Tucson, Arizona. Foto: CBP

O fim do Title 42 que é a política que permitia a rápida expulsão de milhares de imigrantes na fronteira com o México, na quinta-feira, 11, pode provocar um verdadeiro caos nos Estados Unidos. Para prevenir, as autoridades colocaram de prontidão na fronteira cerca de 24 m9l agentes para impedir a entrada de milhares de imigrantes indocumentados no país.

O Title 42, uma regra imigratória que foi ativada durante a pandemia da COVID-19, previa a expulsão automática de quase todos os que tentavam entrar nos Estados Unidos sem visto para evitar a propagação da doença. O Title 42 foi criado e implantado no governo do republicano Donald Trump, baseado em uma lei de saúde pública de 1944. 

Na época a medida foi muito criticada pois usaria a pandemia como pretexto para impedir e expulsar quem pretendia entrar e pedir asilo nos Estados Unidos. Com o fim da medida coercitiva, é de se esperar que as cortes de imigração americanas sejam entulhadas de novos pedidos de asilo.

As ruas de muitas cidades americanas fronteiriças estão entulhadas por milhares de pessoas que se arriscaram na travessia e estão a espera de dias melhores. Tudo isto evidencia que o sistema de imigração dos Estados Unidos está de fato quebrado e consequentemente falido, o que não é nenhuma novidade nestes tempos modernos de muita polarização e intolerância. 

O grande paradoxo é que o povo que ajuda a fomentar progresso e construir estradas, pode comprar qualquer carro que esteja dentro das suas posses, mas não tem o direito a uma habilitação, pode registrar o carro, mas tem que deixá-lo parado na garagem, pois se dirigir vai transgredir a lei.

É claro que tudo isto faz parte de uma discussão muito ampla e complexa que não cabe num artigo ou num editorial, mas nada impede que possamos discuti-la. Devemos lembrar que a América sempre teve as suas portas abertas para povos de todos os lugares do mundo e foram os primeiros imigrantes que trataram de transformá-la na potência que é hoje.

Muitos povos diferentes fizeram da América a sua casa e deixaram os seus países para aportar na América e fixar aqui residência em verdadeiras multidões. Até o final dos anos 70 no século 20, quase seis milhões de italianos desembarcaram nos Estados Unidos, principalmente em New York City e arredores, onde dominaram bairros inteiros. Grande parte destes italianos eram semi-analfabetos, e sofreram preconceitos por professarem o catolicismo. Os italianos sofreram os desgostos da falta de planejamento e muitos desistiram do sonho americano e voltaram para a sua terra.

Até 1970, os Estados Unidos eram divididos entre brancos e negros e a partir dai a diversidade tomou conta e hoje os hispanos ultrapassaram os negros em percentual étnico.

Os números da migração são impressionantes. Entre 1892 e 1924 cerca de 20 milhões de imigrantes passaram pelo posto de controle de Ellis Island em New York, onde está situada a Estátua da Liberdade. Estes imigrantes imprimiram uma nova cara à América em costumes, muito trabalho ao passo que os filhos dos imigrantes que nasceram aqui, tinham um pé em alguma nação do mundo. Uma frase escrita na base da estátua dava o tom de como os imigrantes seriam recebidos na América – Venham a mim as massas exaustas, pobres e confusas ansiando por respirar liberdade. Venham a mim os desabrigados, os que estão sob a tempestade. Eu os guio com minha tocha.

Mesmo assim a migração sempre foi um problema para os Estados Unidos, principalmente por falta de uma política que regulamentasse o assunto. Mesmo sendo um problema, a migração sempre foi tolerada pelo governo americano e a cada ano que passa tende a aumentar cada vez mais. Carente de mão de obra não especializada, os Estados Unidos destinam aos imigrantes os postos de trabalho que o americano jamais deseja. Com isto a oferta de empregos sempre foi maior que a demanda de mão de obra, sempre farta, pois o que nunca faltou foi imigrante chegando todos os dias aos milhares.

Grande parte destas pessoas estão nas sombras por falta de documentos, mas contribuindo com o seu suor e dinheiro para que a América seja sempre próspera. Claro que muito há para ser feito, e as autoridades podem e devem impor regras para corrigir este estado de coisas, o que é sim, um direito inquestionável, mesmo que algumas injustiças sejam cometidas, mas isto é para ser discutido em outra oportunidade.

É imperioso que se saiba que temos direitos, mas também deveres dos quais jamais podemos nos furtar de cumprir. O fato de não ter documentos não transforma ninguém em um fora-da-lei, também não nos faz pobres coitados desamparados e a míngua.

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros