A necessidade urgente de uma reforma de imigração

Um sistema falido e falho que não tem data para ser reformado

1
332
Milhares de pessoas tentar entrar irregularmente nos EUA todos os dias. Foto: US Border Patrol

A atual crise que acontece na fronteira dos Estados Unidos com o México é a prova cabal da falência do sistema imigratório que não funciona há muitos anos. São milhares de pessoas que tentam a qualquer custo entrar no país e o drama é potencializado pela quantidade de famílias com crianças pequenas que se acumulam e sofrem todo tipo de humilhação que um ser humano pode passar. É o maior e interminável êxodo das últimas décadas.

Ao se arriscar na perigosa, infame e ultrajante travessia, quem se aventura não tem a menor noção do que o aguarda adiante. Querem entrar no paraíso capitalista para ter e proporcionar uma vida melhor e mais digna. Mas nem sempre é assim, aliás, não é nada fácil.

Ter documentos e status de legalidade nos Estados Unidos é um privilégio que é concedido pelas autoridades na medida em que elas julgam ser da conveniência delas e sem dúvida alguma que reconhecemos este privilégio, mas ressaltamos a injustiça que se comete, sem contudo questionar os seus méritos, principalmente porque todos nós trabalhamos e contribuímos para o engrandecimento ainda mais desta nação que nos acolhe.

O grande paradoxo é que o povo que ajuda a fomentar progresso e construir estradas, pode comprar qualquer carro que esteja dentro das suas posses, mas não tem o direito a uma habilitação, pode registrar o carro, mas tem que deixá-lo parado na garagem, pois se dirigir vai transgredir a lei.

É claro que tudo isto faz parte de uma discussão muito ampla e complexa que não cabe num artigo opinativo ou num editorial, mas nada impede que possamos discuti-la sim. Devemos lembrar que a América sempre teve as suas portas abertas para povos de todos os lugares do mundo e foram os primeiros imigrantes que trataram de transformá-la na potência que é hoje.

Uma travessia perigosa que pode terminar em tragédia para muitas pessoas que se arriscam

Muitos povos diferentes fizeram da América a sua casa e deixaram os seus países para aportar na América e fixar aqui residência. Vieram às multidões. Até o final dos anos 70 no século 20, quase seis milhões de italianos desembarcaram nos Estados Unidos, principalmente em New York City e arredores, onde dominaram bairros inteiros. Grande parte destes italianos eram semi-analfabetos, e sofreram preconceitos por professarem o catolicismo. Os italianos sofreram os desgostos da falta de planejamento e muitos desistiram do sonho americano e voltaram para a sua terra.

Até 1970, os Estados Unidos eram divididos entre brancos e negros e a partir daí a diversidade tomou conta e hoje os hispânicos ultrapassaram os negros em percentual étnico.

Os números da imigração são impressionantes. Entre 1892 e 1924 cerca de 20 milhões de imigrantes passaram pelo posto de controle de Ellis Island em New York, onde está situada a Estátua da Liberdade. Estes imigrantes imprimiram uma nova cara à América em costumes, muito trabalho ao passo que os filhos dos imigrantes que nasceram aqui, tinham um pé em alguma nação do mundo. Uma frase escrita na base da estátua dava o tom de como os imigrantes seriam recebidos na América – Venham a mim as massas exaustas, pobres e confusas ansiando por respirar liberdade. Venham a mim os desabrigados, os que estão sob a tempestade. Eu os guio com minha tocha.

Mesmo assim a imigração sempre foi um problema para os Estados Unidos, principalmente por falta de uma política definitiva que regulamentasse o assunto. Mesmo sendo um problema, a imigração sempre foi tolerada pelo governo americano e a cada ano que passa tende a aumentar cada vez mais.

A questão da imigração indocumentada ou ilegal como queiram muitos tornou-se mais evidente a partir dos anos 1990 e a década de 2000 por falta de uma política definitiva sobre o assunto. Há de se considerar a reabertura da Lei 245i em dezembro de 2000 e a partir daí, foram oitos anos de aridez do período de George W. Bush e os seis anos de Barack Obama. Na administração Donald Trump, viu-se o crescimento da intolerância, do preconceito, da xenofobia e da manipulação por parte dos conservadores, com os republicanos e os integrantes do Tea Party fazendo todo tipo de pressão para que nada, absolutamente nada fosse feito. Essa gente ignóbil pouco ou nada se importa, com seres humanos, trabalhadores e famílias que estão nas sombras, vivendo como indigentes sem nenhuma perspectiva de solução em curto prazo.

Carente de mão de obra não especializada, os Estados Unidos destinam aos imigrantes os postos de trabalho que o americano – invariavelmente – jamais deseja. Com isto a oferta de empregos sempre foi maior que a demanda de mão de obra, sempre farta, pois o que nunca faltou foi imigrante chegando todos os dias aos milhares.

Hoje, grande parte destas pessoas padecem por falta de documentos, contribuem com o seu suor e dinheiro para que a América seja sempre próspera. Claro que muito há para ser feito, e as autoridades podem e devem impor regras para corrigir este estado de coisas, o que é sim, um direito inquestionável, mesmo que algumas injustiças sejam cometidas, mas isto é para ser discutido em outra oportunidade.

Jehozadak Pereira

Jehozadak Pereira é jornalista profissional e foi editor da Liberdade Magazine, da Refletir Magazine, do RefletirNews, dos jornais A Notícia e Metropolitan, do JS News e jornalista da Rede ABR - WSRO 650 AM. Foi articulista e editorialista do National Brazilian Newspaper, de Newark, New Jersey. É detentor de prêmios importantes tais como o Brazilian Press Awards e NEENA - New England Ethnic Newswire Award entre outros

1 COMMENT

Comments are closed.